quinta-feira, 5 de maio de 2011

A paciencia

Como de costume, chovia. A rua estava deserta. Caminhei por uma rua suburbana de casa simples mas charmosas. Passei em frente à um galpão. Pelas portas escancaradas ví um homem de feições um pouco rudes, com as roupas e apele suja de poeira e fuligem. Com marreta e talhadeira em punho, ele golpeava um imenso bloco de pedra. Como a chuva tivesse aumentado, convidou-me a me abrigar ali. Disse-me que era escultor e que acabara de começar uma nova obra. Conversamos enquanto ele continuava batendo no mesmo ponto.
Contou-me sobre a familia, os filhos, a vida na cidade. Desde sempre fora escultor. Ainda muito jovem herdara do pai as ferramentas e o carisma, assim como a responsabilidade de cuidar da mãe e dos irmãos. Da horta e da criação a mãe tirava o sustento, mas ele queria mais. Queria dar estudo aos irmãos. Nunca fora em escola, mas sabia que os irmãos não teriam futuro sem estudos. Trabalhou noite e dia.  
A este ponto eu ja me incomodava com as batidas incessantes. Desde que eu chegara, nenhuma rachadura sequer havia surgido na pedra. Percebendo minha incomodação, parou e perguntou o que havia. Meio constrangido  perguntei a finalidade de tudo aquilo. Disse-me o seguinte: 
- Os jovens esperam tanto que algo desfaça o tédio que quando acontece eles nem percebem.
Sentí-me encabulado, mas voltei a escutar sua história. 
Com o tempo, ganhou muito dinheiro, revertido em cursos e faculdades. Hoje os irmãos moram na capital, e ensinando seu filho, ele completa o ciclo da familia. Perguntei se não queria que o filho estudasse e tivesse outra profissão. Foi então que me respondeu:
- É isso que eu desejo. Dei-lhe os melhores professores, os melhores cursos e faculdades. Mas não abdiquei de ensinar-lhe meu oficio, pois esse lhe mostrará os valores da vida e a importância da paciência e perseverança.
Antes que eu pudesse perguntar-lhe o significado daquilo, um estrondo tirou-me a atenção. Sob a marreta e a talhadeira, o enorme bloco de rocha quebrou ao meio. Como se cortado por maquinas industriais, haviam agora dois blocos extremamente lisos em todos os lados. O escultor olhou-me com olhos de um pai que ensina ao filho, e naquele momento entendí que não foi a última pancada que quebrou a pedra, mas sim todas as outras que a antescederam.

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