quarta-feira, 31 de março de 2010

Acabou

Amor:
Como tumor
Nasce no coração da gente
Em meio a amizade
Vemos tudo diferente

Cresce se alimentando de sorrisos
Olhares, músicas e situações
Pouco a pouco toma o sentimento
Que antes dominava as ações

Apodrece a amizade que antes existia
Esse câncer apaixonado não tem pudor
Não tem medo e nem concede anistia

Infelizmente, para retirar do peito o amor
É preciso ceifar também a amizade
Pois juntos sempre estarão, bem ou mal,
Guiando nossas vidas sem imparcialidade

Thiago M. Lacerda

terça-feira, 30 de março de 2010

Depois do sol

Chega, com toque frio
E põe o medo no meu coração
Com esse sopro de outono
Faz do inverno a minha razão

Vejo no fundo dos teus olhos
Que ainda carregas paixão
Sinto no tom da tua voz
Um toque de emoção

Quando a lua estiver encoberta
Eu estarei aqui
E do teu lado continuarei
Mesmo quando ninguém mais acreditar em ti

E se as estrelas surgirem no céu novamente
Me prometa, me ame, queira mais que minha amizade
E comigo fique até o sol nascente
Daqui, pra sempre, pra toda eternidade

Thiago M. Lacerda

segunda-feira, 29 de março de 2010

Não diga

Não me diga que é dificil
E que não vai mais voltar
Não me diga que foi triste
E que o tempo vai curar

Não quero consolo
Pois só o triste se deixa consolar
Quero alegria no coração
Sentir a verdadeira sensação de amar

Thiago M. Lacerda

Aonde quer que eu vá

Não sei ao certo
Se é só ilusão
Se é você bem perto
Ou se é intuição

E aonde quer que eu vá
Levo você no olhar

Herbert Vianna

quarta-feira, 24 de março de 2010

De que?

De futebol e política
Todo mundo sabe um pouco

De músico e de louco
Todo mundo tem um pouco

De vida e morte
Todos falam muito pouco

De arte e cultura
Não querem saber nem um pouco

De sexo e reality show
Ninguém sabe pouco

E agora, o que faremos?

Thiago M. Lacerda

segunda-feira, 22 de março de 2010

Rangido

Não era eu naquele quarto. Não poderia ser eu. Naquela escuridão toda, os olhos eram as únicas coisas que ainda tinham luz própria, mas não era a luz da esperança. Era a luz do medo e da vingança. Sentado na velha cadeira de balanço que um dia sustentou meu bisavô, eu escutava um rangido secular. Ah, aquele rangido. Todas as noites, antes de dormir, aquele som atravessava as paredes de concreto do velho casarão e invadia meus ouvidos. Eu me lembrava daquele velho decrépito que não saía da cadeira. Tinha a barba longa, um chapéu sempre enterrado sobre a cabeça. Os olhos azuis, fundos, em meio ao rosto enrrugado trasmitiam pena a quem os visse. Não me lembro direito da sua voz. Na verdade, a única imagem que permanecia na memória era do rangido da cadeira de balanço de onde meu bisavô nunca saía. Agora quem estava lá era eu, e pela primeira vez em décadas pude ver nos espelho meus olhos brilhando outra vez. De amor? Não, meus olhos não brilharam de amor desde a minha juventude, quando se tornaram opacos... para sempre.
Eu era o decrépito agora, e o rangido era culpa minha. Muita coisa ainda era culpa minha. Não fui eu quem matou o velho! Mas ainda assim existia muita culpa pesando sobre meus ombros. Culpa... Culpa de quê? Porque eu me sentia culpado? A culpa foi de quem me fez assim! Quase meio século de amargura por um amor de juventude... Por alguns amores de juventude. Uma vida inteira de trabalho, reconhecimento e ascenção não puderam apagar a mágoa que se instalou no coração. E agora, eu me culpo por tudo que aconteceu. É verdade, não adianta jogar a culpa nela. Nem sei se ainda vive. Tudo aconteceu há tanto tempo.
Agora, só uma culpa me interessa. E essa será a última culpa que terei na vida.

Girou o tambor. Um movimento de dedo. Um estampido. E nunca mais se ouviu falar...

Thiago M. Lacerda

sexta-feira, 19 de março de 2010

Muda sedução

Ela era loira e me observava por detrás do balcão do consultório. Fingindo que digitava, ela sorrateiramente voltava seus olhares para mim a todo minuto. Eu, afundado em um poltrona confortavelmente amarela, fingia que não havia percebido. Me fazia de salame. Olhava para a televisão como se nada ao meu redor importasse, mas eu sabia que ela estava lá e me observava. Desviei rapidamente a atenção, e ao voltar não mais a encontrei. Espichei os olhos para olhar dentro das salas cujas portas se mantinham abertas. Nada. Procurei em toda a sala de espera. Uma senhora muito elegante, segurando desplicentemente sua bolsa. Um homem gordo e careca empacotado em um quente terno. A outra moça da recepção, escrevendo em alguns papéis. Mas nada da loira. Nem sinal...
Lentamente, fui tomado por uma sensação estranha. Um cheiro doce invadiu minhas narinas, e sem o menor aviso, aquele anjo loiro tocou meu ombro esquerdo - Me acompanhe, por favor. Aquelas palavras pronunciadas por um misto de temor e desejo me aqueceram o coração, e eu fui, como um cordeiro arrastado pelo lobo.
Entrei e, olhando de viés, vi sua pequena mão de belas unhas brancas girar a chave - Pode tirar a camisa. Obedecí, e num segundo ja me encontrava deitado no balcão ao lado. Pressionou-me os pulsos, e logo em seguida senti beliscar meu peito. De olhos fechados, eu imaginava aquela situação. Não tinha coragem de abrir os olhos e o suor frio ja me escorria nas temporas, mas, desculpe a vulgaridade, eu sentia aqueles chupões no peito, subindo levemente. O que faço? O que digo? Deixo-me ser conduzido? O toque quente de suas mãos me encontrava pouco a pouco. Seu perfume estava tão impregnado em mim que já confundia meus sentidos. Lá fora, aquelas pessoas nem imaginavam o que se passava naquela salinha. Ou talvez imaginassem, pois os olhares da loira diziam tudo. Não sei quanto tempo se passou ali dentro, mas em um dado momento os beliscões terminaram. Um momento de alivio. Não sentí mais nada, além do perfume que ainda enchia o lugar. Silêncio - Pode colocar a camisa, senhor. Em alguns minutos o resultado do eletrocardiograma estará pronto.

Thiago M. Lacerda

terça-feira, 9 de março de 2010

Estrada da lagoa

Conversavamos todos à beira da praia. Somente o luar e as estrelas iluminavam àquele imenso cenário. A trilha sonora era o som do mar quebrando na beira. O filme era nossa vida. Em dado momento, não sei exatamente que hora, se cedo ou tarde, talvez no meio da madrugada, decidimos ir embora. Na praia de cidreira, eu só sabia voltar pra casa pela avenida central, cujo nome eu nem sabia, mas um dos meus amigos disse-me que voltariamos todos juntos pelo caminho que eles sempre faziam, e quando estivesse no centro eu iria me achar rapidinho.
Caminhamos sob o lençol escuro pontilhado de estrelas, e quando percebí, não sabia onde estava e não tinha a menor idéia de como havia chegado ali. Em meio a uma estrada que cortava as dunas e a esparça vegetação, não haviamos feito absolutamente nada de errado, mas quando um de nós gritou "É a policia!" o primeiro instinto foi correr. Uma viatura cruzava a noite naquela estrada deserta em nossa direção. Estava na minha reta, e ao chegar em um morrinho de areia, me abaixei, enquanto meus amigos corriam, cada um para uma direção. Imaginei uma cena de filme, aquela viatura passando por cima do morrinho, e consequentemente de mim também, e seguindo reto, assim me deixando para trás, livre. Pena que nesse momento o carro parou sobre o monte de areia fina e branca, e todos nós, que antes conversavamos na beira da praia, levantamos as mãos, e tentamos conversar com os policiais armados. Não sabiamos qual era o nosso crime e nem porque corremos. Aos poucos pudemos baixar os braços, e conversar quase que intimamente com os dois policiais.
A noite se estendeu por alguns minutos antes de o segundo carro estranho daquela madrugada surgir. Era um modelo esportivo amarelo. O motorista perguntou algo a um dos policiais e seguiu. Logo atrás veio o terceiro carro, algo parecido com uma Belina ou uma Caraván, verde musgo bem velho. Não sei o que o condutor falou ao policial, mas sua reação foi imediata. No meio da briga que começou, o carro amarelo volta e seu motorista desce do carro para tomar parte na discussão. Vendo isso, o outro guarda foi ao auxilio de seu parceiro. Justamente nessa hora, vimos nossa fuga, e em uma corrida desenfreada, seguimos aquela estrada estranha até avistar os luminosos prédios do centro de uma praia que não parecia a conhecida Cidreira, mas que sabiamos que era. Chegamos enfim no centro, e com toda sinceridade, continuei sem saber o caminho de casa.

Thiago M. Lacerda

Sentido da palavra

Se esqueceres o sentido da palavra amor
Considera-te o mais desafortunado dos sortudos
Pois do teu coração não brotará mais o sofrimento
Tampouco a felicidade irá encher teus olhos

Quando o fogo da paixão não mais te esquentar
Não haverá carinho que te acalente
E nem luz que faça com que brilhe teu olhar
O mundo opaco será o único ambiente à volta

Na verdade, olhe pra mim
Cruze minhas olheiras profundas
E olhe no fundo dos meus olhos

Se esqueceres o amor
Serás assim!

Thiago M. Lacerda

domingo, 7 de março de 2010

Chorem

Onde é que a sanidade beira a loucura?
Qual é o momento exato que cruzamos a fronteira?
Muito se arrisca que flerta com a incerteza
E quando o sol se por, isso será facilmente percebido

Quando a luz se for, a lua regerá os loucos
Os apaixonados e os solitários
Sob o lençol de estrelas, cada um poderá sofrer em paz
E o reflexo da lua nos olhos será eterno

Sim, somente o reflexo da lua traz de volta a vida
Àqueles olhos que há muito já não brilham
E que, no fundo do olhar dos outros
Não tem sentimento nenhum

Mas quando o luar não mais estiver
E o sol nascer num novo dia
Chorem, pois também não estaremos mais entre vocês

Thiago M. Lacerda

quarta-feira, 3 de março de 2010

VaIdade

Do orgulho à vergonha vai a nossa idade. Queremos que passe rápido, que nos tornemos mais velhos o quanto antes, e quando o quanto antes chega, o arrependimento torna a idade um segredo. A vida começa aos 40. 30 é a idade perfeita. Quem aproveita mesmo é quem tem seus 20 anos. Cada época da nossa vida pode ser taxada como a melhor, ou a pior. Esse pessoal de 20 ai não tem cabeça pra nada, é muito novo. A geração dos quarentões já não consegue se atualizar. Tudo tem seus prós e seus contras, e para não nos sentirmos mal, procuramos motivos para nossa idade ser melhor que as outras.
Botox, alimentação saudavel, exercicios fisicos, cremes faciais. É verdade, tudo isso funciona, e se chama estética. Mas não é somente o que está à vista de todos que faz de nós velhos ou novos. Certa feita lí um texto da Lya Luft sobre o assunto. Lembro que perto do fim do texto, ela falava que as cirurgias plasticas podem tirar os pés de galinha, mas ainda não inventaram procedimento cirurgico que renovasse o brilho dos olhos. Quem vive mal, perde o brilho do olhar. Um olhar opaco envelhece mais do que rugas e cabelos brancos, e sempre trará novas rugas aos rostos rejuvenescidos. Isso porque o corpo só pode se manter jovem se o coração e a mente também o estiverem. Um coração triste ou uma mente fechada não consegue manter bonito um corpo.
O sorriso radiante e a luz que se esconde no fundo de cada olhar são a unica maneira de reconhecer um jovem, tenha ele 13, 27, 45 ou 70 anos. E isso, nenhum tratamento estético pode mudar.

Thiago M. Lacerda