quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Triste partida

Sentado na cadeira de balanço, de olhos mareados, ele pensa: "Lá se vai mais um pedaço de mim".
Nunca tentara mudar. Na juventude, fazia o que queria. Durante toda a vida, fez somente o que lhe passou na cabeça. Mesmo conhecendo seu erro, nunca tivera o trabalho de pedir perdão. Aquelas pessoas não mereciam sua humilhação. Ora, perdão. Quem são eles pra me perdoar?
O tempo passou, e com ele o vigor da juventude. Tornou-se fraco, esguio. Os ossos lhe saltavam sob a pele. As olheiras oriundas da farra e das noitadas foram substituidas por olheiras ainda maiores, ocasionadas pelas noites a fio em que o sono fugiu, e a culpa apoderou-se do coração. Coração? Diziam que ele não tinha. Mas ao envelhecer, conseguiu sentir aquele pedaço de carne esburacado. Hoje ele sabe que tem um coração, pois não pára de doer. Foi atrás de médicos, de curandeiros, mas todos eles disseram a mesma coisa: Não há remédio humano que te cure.
Na velha cadeira de balanço criou raízes, pois a dor no coração tranformou-se em mágoa, e a mágoa transformou-se em imensa tristeza, que trouxe consigo a falta de vontade, o medo do mundo. Por isso, atou-se emocionalmente á cadeira de balanço, pois foi a unica coisa que não lhe fugiu ao controle. Somente aquela cadeira aguentou seus anos de soberba. Os outros tiveram de ir embora. Tentaram lhe ajudar, mas tinham suas próprias vidas a seguir. O único que ficou foi aquele velho, que pelo descaso da tristeza deixou com que a barba e os cabelos crescecem. Parou de comer. Não sentia mais prazer em nada. Tudo que lhe restou foi a saudade.
Com um nó eterno na garganta, respirou fundo e sentiu as batidas do coração. Uma. Duas. Três. Quatro... Silencio. Veio então o suspiro derradeiro. O corpo afrouxou-se sobre a velha cadeira, mas não havia ninguém lá para lhe socorrer. Ninguém iria chorar sob seu túmulo. Morreu de velho, então, o Arrependimento, sem amigos, sem familia, e sem ter conseguido mudar sua vida...

Thiago M. Lacerda

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Aquela ideologia

- A sociedade está podando seu futuro! Sim, é com uma frase de impacto que começo esse discurso, pois se nada, até agora, pôde mudar a mente humana, só entrando de sola mesmo. Enfim, como está podando? Preste atenção nas salas de aulas. Qual a diferença entre elas e a cama onde as crianças dormem? Em ambos elas sentem sono, mas pelo menos na cama elas podem sonhar. 
- A quem responder de forma espirituosa essa pergunta, dou todos meus bens! O que o sistema educacional ensina de produtivo aos nossos alunos? Uau, eles aprendem a resolver contas com logaritimos. E, importantissimo, são ensinados a diferenciar um sujeito composto de um simples. E agora, novamente a pergunta: O que o sistema educacional ensina de PRODUTIVO aos nossos alunos?

A cada nova palavra, o povo exaltava aquele jovem político. Em praça publica resolvera fazer seu discurso. Sem acessoria de imprensa, subira em um banco e desatara a falar, não o que lia em um IPad ou em um bloco de anotações, mas o que saia da mente, o que dizia o seu coração. Às nove horas da manhã de segunda-feira, cerca de 200 pessoas paravam ao lado do Mercado Público para ouvir aquela figura até então pouco conhecida. E ele prosseguia:

- O que o mundo está fazendo aos nossos jovens? São como plantas que precisam de água para crescer e sobreviver. E nós, o que fazemos? Colocamos o regador longe do alcance delas e dizemos: Vem, te esforça absurdamente e bebe água. Porque!? Porque fazemos com que o objetivo dessa juventude seja estudar, estudar e estudar!? Porque colocamos como meta um vestibular ou um diploma, se o objetivo das plantas não é a água, mas sim o céu? Temos que regar essas plantas com toda a nossa água, com todo o nosso conhecimento, mas de forma suave, pra que não se afoguem, e ensina-las que seu objetivo é  céu. O vestibular, o diploma, as boas notas, o estudo, são como a água para a planta, mas nunca como o céu. Pois o céu da nossa juventude deve ser uma sociedade mais unida, uma vida digna a todos!

Cada vez mais transeuntes paravam para ouvir aquele rapaz engravatado que, debaixo de um sol quente e incomun de inverno, discursava idéias nunca antes vistas. Sob aplausos alucinados, o jovem terminou seu discurso e desceu do banco. Alguns o cumprimentaram. Um, em específico deu-lhe um presente: Uma bala no lado esquerdo do peito. Todos aqueles observadores fanáticos ficaram chocados com o disparo repentino. O assassino fugiu. As pessoas retomaram suas vidas. E aquela ideologia inovadora morreu, pois ninguém se deu ao trabalho de planta-la em sua mente. Hoje em dia, boas idéias não vivem pra contar história...

Thiago M. Lacerda