terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O banco

Quantas pessoas já sentaram nesse banco?
Sentou índio, negro, mulato e branco
Rico e pobre, jovem ou não
O banco não distingue
Credo, cor ou religião

Nessa noite, é a chuva que ocupa o banco da praça
Agora é umido o assento
Que já sustentou amores e amigos
Ja escutou cantadas e canções
Passou por invernos e verões

Cor sobre cor
Tinta sobre tinta
Ninguém mais sabe
Qual é o verdadeiro banco

Quem passa nem da bola
Quem senta, logo levanta e sai
Mas quem, de longe, observa
Sabe que não é só mais um pedaço de madeira
Porque ali se passaram coisas
de muita importancia ou besteira

Naquele banco ficaram pedaços de corações
Mas hoje, é a chuva que embala as emoções

Thiago M. Lacerda

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Cinza

O coração endurece
Se torna frio e sem cor
Quando desaparece,
Nele, o amor

Os olhos perdem o brilho
De tão opacos, perdem a visão
E nunca mais vêem paixão
Para salvar o coração

É desse fim de vida que brota o frio
E agora me pergunto:
Ainda há algo que preencha esse vazio?

Thiago M. Lacerda

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Bolha de cristal

Não sei ao certo quando esse sintoma começou, mas o fato é que certa noite a solidão havia tomado sua vida de tal maneira que desde então viveu calado, mudo, anestesiado.
A tarde quente caíra horas atrás e a noite ja se prolongava na sacada do apartamento. A Av. Central mantinha um fraco fluxo de automóveis e pedestres iluminados pelas luzes amareladas dos postes, dando assim um ar triste à tão moveimentada Capão. Nessa solitária sacada, uja noite parecia ainda mais avançada, um rapaz, deitado na rede, lia a página 357 de uma velha história. São as velhas histórias que tocam fundo no coração da gente, e ninguém sabe porque, mas marcam nossas vidas. A noite corria assim como as páginas do livro. Chegara na 394.
"Entretanto, antes de chegar ao verso final já tinha compreendido que não sairia nunca daquele quarto, pois estava previsto que a cidade das miragens seria arrasada pelo vento e desterrada pela memória dos homens..."
Os mosquitos há muito não lhe tiravam a atenção, mas um especial tirou-o da leitura. Pousou em seu ombro, e sob o jugo de um tapa feroz, padeceu ali, deixando que seu algoz voltasse à leitura.
"... no instante em que Aureliano Babilonia acabasse de decifrar os pergamihos e que tudo o que estava escrito neles era irrepetivel desde sempre e por todo o sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade na terra."
Chocado com o fim do imenso conto, sentiu um bater de asas sutil. Pensou no bater de asas das borboletas. Desviou o olhar do livro, e percebeu que na verdade eram bolhas de sabão que lhe rodeavam. Em cada bolha via um trecho de sua vida. As imagens passavam lentamente refletidas naquelas esferas. Porem, o reflexo da ultima mudou sua vida para sempre. Viu uma frase metalica na frente de um chafariz: Ad Verum Ducit*. Largou o livro, deixou-o em cima da mesa junto do celular e das chaves, saiu porta afora, e deixou para sempre aquele mundo de ilusões.

Thiago M. Lacerda

* Ad Verum Ducit, do latim, significa "Conduzir à verdade"