quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Quero ódios

A mão que alimenta é a mesma que machuca
Confundo-me com essa máxima
Nem sei o que pode doer mais:
O carinho ou o rancor?

O carinho te esquenta
Te acolhe nos braços
Faz-te esquecer dos problemas
E deixa-te quando menos esperas

O rancor se esconde sob olhares frios
Atrás de sorrisos amarelos
E como serpente da o bote
Pois a vingança é um prato que se come frio

Ainda prefiro o ódio
Sim, aquele declarado
Pois de todos, é o que mais perto chega
É o que realmente se aproxima do amor.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Triste partida

Sentado na cadeira de balanço, de olhos mareados, ele pensa: "Lá se vai mais um pedaço de mim".
Nunca tentara mudar. Na juventude, fazia o que queria. Durante toda a vida, fez somente o que lhe passou na cabeça. Mesmo conhecendo seu erro, nunca tivera o trabalho de pedir perdão. Aquelas pessoas não mereciam sua humilhação. Ora, perdão. Quem são eles pra me perdoar?
O tempo passou, e com ele o vigor da juventude. Tornou-se fraco, esguio. Os ossos lhe saltavam sob a pele. As olheiras oriundas da farra e das noitadas foram substituidas por olheiras ainda maiores, ocasionadas pelas noites a fio em que o sono fugiu, e a culpa apoderou-se do coração. Coração? Diziam que ele não tinha. Mas ao envelhecer, conseguiu sentir aquele pedaço de carne esburacado. Hoje ele sabe que tem um coração, pois não pára de doer. Foi atrás de médicos, de curandeiros, mas todos eles disseram a mesma coisa: Não há remédio humano que te cure.
Na velha cadeira de balanço criou raízes, pois a dor no coração tranformou-se em mágoa, e a mágoa transformou-se em imensa tristeza, que trouxe consigo a falta de vontade, o medo do mundo. Por isso, atou-se emocionalmente á cadeira de balanço, pois foi a unica coisa que não lhe fugiu ao controle. Somente aquela cadeira aguentou seus anos de soberba. Os outros tiveram de ir embora. Tentaram lhe ajudar, mas tinham suas próprias vidas a seguir. O único que ficou foi aquele velho, que pelo descaso da tristeza deixou com que a barba e os cabelos crescecem. Parou de comer. Não sentia mais prazer em nada. Tudo que lhe restou foi a saudade.
Com um nó eterno na garganta, respirou fundo e sentiu as batidas do coração. Uma. Duas. Três. Quatro... Silencio. Veio então o suspiro derradeiro. O corpo afrouxou-se sobre a velha cadeira, mas não havia ninguém lá para lhe socorrer. Ninguém iria chorar sob seu túmulo. Morreu de velho, então, o Arrependimento, sem amigos, sem familia, e sem ter conseguido mudar sua vida...

Thiago M. Lacerda

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Aquela ideologia

- A sociedade está podando seu futuro! Sim, é com uma frase de impacto que começo esse discurso, pois se nada, até agora, pôde mudar a mente humana, só entrando de sola mesmo. Enfim, como está podando? Preste atenção nas salas de aulas. Qual a diferença entre elas e a cama onde as crianças dormem? Em ambos elas sentem sono, mas pelo menos na cama elas podem sonhar. 
- A quem responder de forma espirituosa essa pergunta, dou todos meus bens! O que o sistema educacional ensina de produtivo aos nossos alunos? Uau, eles aprendem a resolver contas com logaritimos. E, importantissimo, são ensinados a diferenciar um sujeito composto de um simples. E agora, novamente a pergunta: O que o sistema educacional ensina de PRODUTIVO aos nossos alunos?

A cada nova palavra, o povo exaltava aquele jovem político. Em praça publica resolvera fazer seu discurso. Sem acessoria de imprensa, subira em um banco e desatara a falar, não o que lia em um IPad ou em um bloco de anotações, mas o que saia da mente, o que dizia o seu coração. Às nove horas da manhã de segunda-feira, cerca de 200 pessoas paravam ao lado do Mercado Público para ouvir aquela figura até então pouco conhecida. E ele prosseguia:

- O que o mundo está fazendo aos nossos jovens? São como plantas que precisam de água para crescer e sobreviver. E nós, o que fazemos? Colocamos o regador longe do alcance delas e dizemos: Vem, te esforça absurdamente e bebe água. Porque!? Porque fazemos com que o objetivo dessa juventude seja estudar, estudar e estudar!? Porque colocamos como meta um vestibular ou um diploma, se o objetivo das plantas não é a água, mas sim o céu? Temos que regar essas plantas com toda a nossa água, com todo o nosso conhecimento, mas de forma suave, pra que não se afoguem, e ensina-las que seu objetivo é  céu. O vestibular, o diploma, as boas notas, o estudo, são como a água para a planta, mas nunca como o céu. Pois o céu da nossa juventude deve ser uma sociedade mais unida, uma vida digna a todos!

Cada vez mais transeuntes paravam para ouvir aquele rapaz engravatado que, debaixo de um sol quente e incomun de inverno, discursava idéias nunca antes vistas. Sob aplausos alucinados, o jovem terminou seu discurso e desceu do banco. Alguns o cumprimentaram. Um, em específico deu-lhe um presente: Uma bala no lado esquerdo do peito. Todos aqueles observadores fanáticos ficaram chocados com o disparo repentino. O assassino fugiu. As pessoas retomaram suas vidas. E aquela ideologia inovadora morreu, pois ninguém se deu ao trabalho de planta-la em sua mente. Hoje em dia, boas idéias não vivem pra contar história...

Thiago M. Lacerda

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Meus erros

Ainda era jovem. Tinha apenas quinze anos, mas achava que tinha tudo. Pensei que o mundo parava para me escutar, para me observar. Para mim, nada acontecia sem que eu estivesse lá, sem que eu estivesse sabendo, sem que eu quisesse. Na realidade o que eu tinha era um quarto, o dinheiro dos meus pais e meia dúzia de amigos verdadeiros. Mas não, eu achava que era especial, que meu intelecto guiava o mundo e sem mim ninguém existia. E por um bom tempo foi assim. Meus verdadeiros amigos foram deixados de lado para que eu tivesse tempo para aquele que me bajulavam. Esbanjei o dinheiro dos meus pais com festas que eu não queria ir, com coisas supérfluas que eu não queria comprar e seus conselhos por falsos amigos.
De repente tomei um tapa. Aqueles que estavam ao meu redor se voltaram para outro recém-chegado e desavisado. O dinheiro dos meus pais acabou. Eu já não era mais tão simpático, nem tão bonito, nem tão inteligente, tampouco dedicado. Senti-me desabrigado. Como um mendigo que, outrora milionário, perde a mansão, a mulher, os bens e vai viver sob um velho viaduto. Meu quarto não era mais tão grande e nem tão movimentado. Meus violões pareciam mais empoeirados, e como que por mágica, meu computador, celular e videogame tornaram-se velhos e obsoletos, substituidos por novissimos modelos que todos os meus antigos amigos possuiam.
Foi nos velhos amigos, que há muito deixara para trás, que descobrí que nada havia mudado. Ou melhor, não para mim. Descobri que aquela vida badalada, tumultuada e rodeada de amigos e amores foi uma fase. Um ápice emocional. Um rápido momento onde o sol aparece entre as nuvens, mas rapidamente volta a se esconder. Mas até os dias mais nublados tem sua beleza, e foi com as pessoas que realmente gostavam de mim que descobri que um dia ensolarada nem sempre é o melhor que a vida pode te oferecer. Desses amigos, guardo muita lembranças boas e milhares de lições. Dos outros, não guardo sequer uma mágoa. Deles, levo somente o aprendizado que vem com os erros.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A paciencia

Como de costume, chovia. A rua estava deserta. Caminhei por uma rua suburbana de casa simples mas charmosas. Passei em frente à um galpão. Pelas portas escancaradas ví um homem de feições um pouco rudes, com as roupas e apele suja de poeira e fuligem. Com marreta e talhadeira em punho, ele golpeava um imenso bloco de pedra. Como a chuva tivesse aumentado, convidou-me a me abrigar ali. Disse-me que era escultor e que acabara de começar uma nova obra. Conversamos enquanto ele continuava batendo no mesmo ponto.
Contou-me sobre a familia, os filhos, a vida na cidade. Desde sempre fora escultor. Ainda muito jovem herdara do pai as ferramentas e o carisma, assim como a responsabilidade de cuidar da mãe e dos irmãos. Da horta e da criação a mãe tirava o sustento, mas ele queria mais. Queria dar estudo aos irmãos. Nunca fora em escola, mas sabia que os irmãos não teriam futuro sem estudos. Trabalhou noite e dia.  
A este ponto eu ja me incomodava com as batidas incessantes. Desde que eu chegara, nenhuma rachadura sequer havia surgido na pedra. Percebendo minha incomodação, parou e perguntou o que havia. Meio constrangido  perguntei a finalidade de tudo aquilo. Disse-me o seguinte: 
- Os jovens esperam tanto que algo desfaça o tédio que quando acontece eles nem percebem.
Sentí-me encabulado, mas voltei a escutar sua história. 
Com o tempo, ganhou muito dinheiro, revertido em cursos e faculdades. Hoje os irmãos moram na capital, e ensinando seu filho, ele completa o ciclo da familia. Perguntei se não queria que o filho estudasse e tivesse outra profissão. Foi então que me respondeu:
- É isso que eu desejo. Dei-lhe os melhores professores, os melhores cursos e faculdades. Mas não abdiquei de ensinar-lhe meu oficio, pois esse lhe mostrará os valores da vida e a importância da paciência e perseverança.
Antes que eu pudesse perguntar-lhe o significado daquilo, um estrondo tirou-me a atenção. Sob a marreta e a talhadeira, o enorme bloco de rocha quebrou ao meio. Como se cortado por maquinas industriais, haviam agora dois blocos extremamente lisos em todos os lados. O escultor olhou-me com olhos de um pai que ensina ao filho, e naquele momento entendí que não foi a última pancada que quebrou a pedra, mas sim todas as outras que a antescederam.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Crítica ao ensino

Não crescí sob poda. Nunca tive limites culturais a seguir. Não me enquadro nas escolas comuns. Não me enquadro nas faculdades comuns. Copiar e colar, definitivamente, não é a minha praia. Meu caderno nunca esteve em sintonia com algo que não fosse minha própria mente. Isso quando eu tinha cadernos.
Meus professores não compreendiam. Meus colegas, tampouco. Por isso minha vida escolar, de inicio brilhante, foi turbulenta e genial. Onde a sociedade de ensino me permitiu, tive ápices de genialidade, mas além dessas brechas, uma vida medíocre e angustiantes. Uma sensação deque se cresceu mais do que o espaço permitia me acompanhou atéa faculdade.
Saí. Me desprendí das fundações do ensino moderno. Fugí antes de tornar-me um papagaio, um HD de computador. Não adquiri titulos acadêmicos nem diplomas, mas conseguí escapar ainda com liberdade de pensamento e expressão. Hoje, estudo na faculdade da vida, e sem previsão de formatura...

quarta-feira, 30 de março de 2011

Bauman

O relógio no canto da tela marca três horas. Há cinco estou mirando a tela sem absolutamente nada a escrever. Cinco horas e nem uma palavra. Na verdade foram várias palavras, mas nada que pudesse ser considerado um pontapé inicial. O tempo aumenta a pressão. É, acho que deveria ter comprado aquela máquina de escrever. Pelo menos não estaria há cinco horas olhando para um caixa que emite luz. Meus olhos agradeceriam. Mas cá estou, sem máquina de escrever, sem frio, sem uivo do vento. Só uma noite clara e abafada, exatamente como as noites típicas de verão.
Preciso escrever um conto. Apenas um. Lembrei-me de Bauman. O conto é liquido, se adapta a qualquer recipiente. De tão liquido me escorre pelos dedos e derrama-se noite a fora. Meu conto deve estar por ai, em uma poça qualquer, prestes a evaporar aos primeiros raios de sol. É, acho que hoje não é a minha noite. Talvez o céu desabe meu conto novamente. Sonhos. Um conto não cai assim do céu. Mas, como água pode simplesmente chover sobre mim? Quem dera o conto fosse liquido. Zygmund Bauman estava errado. Se bem que, se não fosse liquido, como eu o perderia tão facilmente?
Deu! Chega! Nada de computador. Nada de máquina de escrever. Eu vou é pegar papel e caneta e escrever na banheira.

Thiago M. Lacerda