sexta-feira, 4 de março de 2011

Me apresento

Peço desculpas por não avisar, por ir embora, por não ter amado tanto. Principalmente, peço desculpas por não ter saudade. Não sei como estão agora. Não preciso saber como estão agora. Mas na vida que levo, não há espaço pra saudade. As pessoas que conheço, deixo onde estavam. Comigo só levo a viola, meu amor próprio, minha fé e a vontade de seguir por ai. Como um carro sedento por estrada, meus pés só descansam no asfalto, na eminência de um novo lugar. O mundo me dá tudo de que preciso. Tomo banho, faço a barba, almoço, janto, leio jornal, livros, toco violão. Ganho dinheiro do mesmo modo como o gasto. As pessoas tem necessidades que muitas vezes não conseguem saciar, e para isso existe o trabalho alheio. Caminhando por ai já encontrei dezenas, talvez centenas ou milhares de pessoas precisando de um serviço; qualquer serviço: pedreiro, carpinteiro, músico, pintor, officeboy... Graças a Deus, sempre existiu a necessidade de algo por onde passei. Graças a Deus, sempre tive tudo que precisei. Graças a Deus, sempre tive Deus comigo.
Não lembro exatamente quando decidi sair, muito menos porque. Talvez alguma desilusão amorosa, desgaste familiar. Realmente não lembro. Sei que tinha 17 anos, um diploma do ensino médio, um violão, dinheiro guardado e roupas boas. Cresci em meio a uma familia de classe média como outra qualquer: pai, mãe, irmão, tios, primos, avós... Pelo esforço do meu pai, estudei em bons colégios, fiz cursos... Me sinto ingrato quando penso nisso, mas aquela não era a minha vida. Em dado momento, coloquei minhas coisas numa mochila, o violão nas costas e partí.  No inicio, eu não tinha a menor ideia de onde ir. Até hoje não tenho. Passei quase uma semana numa pousada caindo aos pedaços, no centro da cidade. Cinco ou seis dias. Também não lembro. Pensei em voltar. Na verdade, foi a única vez que pensei em voltar.
Naqueles dias refletí muito. Cheguei a uma conclusão: Meus tênis tem uma sola bem grossa e meu violão me dá diversão e dinheiro a qualquer hora. A sola não era tão grossa e o dinheiro não era tão facil, mas decidi seguir, caminhar por ai. Passei por muitos lugares. Não sei onde. De cada lugar que passei, a única coisa que levo é o aprendizado. Para trás deixo os amigos, as mulheres, e o dinheiro. Também não carrego vícios.
Tive muitas oportunades nessa vida. Poderia ter sido um músico famoso, um publicitário conhecido, um advogado, dentista, jornalista. Mas decidi-me por ser vagabundo, profissão que com prazer exerço até hoje. Sou também contador de histórias, e se quiserem saber a minha, é com prazer que lhes contarei.

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