quarta-feira, 27 de outubro de 2010

As aparências enganam

De subito, acordei. Enxarcado, suando frio. Senti uma veia latejar sob minha testa, enquanto meus olhos pareciam prestes a saltar das órbitas. Pela dor na nuca, imaginei que estivesse com a pessão altissíma. Não que seja normal, mas acostumei-me a ouvir sobre as dores de cabeça, frutos da hipertensão de minha avó. Não lembro exatamente o que me havia acontecido. Lembro de ter sonhado com um corredor enorme, com as paredes cobertas por musgos e teias de aranha, toda de tijolos crus. Ao fim, uma janela. Olhei para o lado e percebí que a janela do meu quarto era exatamente igual a do sonho. E o pior. Alguém me espiava pela janela. Impossível! Como alguém estaria do outro lado da minha janela, no segundo andar!? Era um homem aparentando cerca 45 anos. Seu olhar era assustador. Começou a abrir a janela quando, de súbito, acordei.
Acordei? É, acordei, olhei imediatamente para a janela, e percebi que aquilo havia sido o sonho dentro do sonho. Ainda era noite. Alta madrugada, e o vento la fora uivava. Deitei a cabeça no travesseiro e me permiti fechar os olhos demoradamente. Uma pancada na janela me tirou do meu transe, e num susto percebi que o homem do sonho estava na minha janela! Não acreditei. Novamente um sonho. Tentei gritar, me mexer, precisava acordar. Com meio corpo para dentro do meu quarto, o homem continuava me olhando com olhar assustador.
Num pulo, acordei. Suspirei aliviado. Finalmente a salvo daquele pesadelo. Revire-me na cama. Pânico. Horror. Ele estava ali, em pé, ao meu lado, me observando. Seus olhos negros pareciam prestes a me atacar. A expressão insana do rosto era a mesma de quando me via através da janela. Debati-me. Não podia ser real. Um pesadelo. Não havia outra explicação. Aquele invasor simplesmente me observava, e nada mais. Gritei o mais alto que pude.
Com o sol no rosto, finalmente acordei. Já era de manhã, e o céu aberto me acalmou um pouco. Levantei-me, e ao olhar para a rua novamente, percebi algo que até então não havia visto. Um pedaço de pano preto, preso à janela. E, putz, tinha certeza de ter fechado a janela antes de ir dormir...

Thiago M. Lacerda

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Já é outro dia

Veja quem quiser ver
Ouça quem quiser ouvir
Pois nos meus olhos hoje vive uma estrela
E no meu peito hoje bate um coração


Não tenho mais medo de dizer
Não tenho medo de que escape a emoção
Te amo, te amo, te amo
Mais que isso, palavras não dirão

Thiago M. Lacerda

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Estrelinha

Certa feita, disse o poeta
Que a estrela mais distante
É a que nos encanta
É pra esse estrela
Que o poeta canta

Acho que de tanto observar
Essa estrelinha desceu do céu
E veio me iluminar

Com um beijo doce
Me deu seu calor
No olhar sincero
Senti todo o amor

Não há trevas
Que vençam essa luz
Que do amor nasceu
E pro amor conduz

Thiago M. Lacerda

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Um só beijo

É a esperança que me leva a ti
Um só beijo, e tudo mudou
Naquele dia novamente sorrí
E desde então, algo em mim ficou

Confesso, tive medo
Mas o calor que há em mim
Essa pequena fagulha de vida
Me da coragem pra te querer mais e mais

Um só beijo, e tudo mudou
A cena se inverte
E traz de volta aquilo que se apagava
Reascende a chama pra te querer mais e mais

Te quero aqui
Como da última vez
Ter teu carinho
Não sabe o bem que me fez

Um só beijo
E te provo que vale a pena

Thiago M. Lacerda

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A cena

A geada encobre tudo
E antes mesmo da madrugada chegar
O mundo já se calou
Tudo é mais belo à luz do luar
Inclusive o céu
E o cheiro úmido no ar

Uma fogueira resiste ao longe
O frio esgueira-se por entre as roupas
Sorrateiro e sedutor, ele invade

Lá em cima, as estrelas só observam
Belas e indiferentes
E ao mesmo tempo
Curiosas e complacentes

O céu respingado de neon
Emoldura toda a cena
Enquanto espera que o sol venha
Terminando, enfim, com esse dilema

Thiago M. Lacerda

Vale

Tudo é belo
Incerto
Mas belo

O sol nascendo
Os pássaros cantando
Ninguém nos vendo
Eu te beijando

Tudo é lindo
Casual
Mas lindo

Uma viagem
Uma imagem
Uma mensagem
A nossa coragem

Belo e casual
Lindo e incerto
A única certeza é que
Aqui, no vale onde os dragões se lançam
O amor floresceu

Thiago M. Lacerda

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Inverso

Hoje se invertem os papéis
Chove la fora
Mas aqui dentro
Ninguém chora

Não há frio
Que possa gelar o coração
E com o sangue quente
Entrego-o em tua mão

Uma voz me dizia
Não vim até aqui
Pra desistir agora
E é chegada a hora
O momento derradeiro
Quando me entrego por inteiro
Quando espero
Teu amor sincero

Se depender de mim
Eu vou até o fim

por Thiago M. Lacerda

Trechos em itálico retirados da música Até o fim, da banda Engenheiros do Hawaii

quarta-feira, 30 de junho de 2010

A noite

Naquela noite o frio estava confortavel. O unico calor necessario era o que aquecia os nossos corações. O céu era com certeza o mais estrelado do ano, e até a lua parecia ter se aproximado para nos ver. A mão macia no meu rosto não deixava duvidas de que naquele 17 de julho o amor havia renascido. Em meu ouvido uma música soava: Nesta noite o amor chegou. Chegou pra ficar... Por alguns segundos pensei ser um sonho, mas os lábios que se aproximavam dos meus não me permitiam duvidar. O hálito quente vinha do único lugar que poderia fornecer calor naquela noite gelada: o coração. O resto não mais existia. A rua estava deserta. O olhar vigilante da lua não nos encabulava mais. O som do vento nas folhas era ainda mais acolhedor. Toda a natureza conspirava a favor. Então, quem seria contra? O amor era tanto que a falta de pudor sequer passou pela minha mente. O que eu queria era aquele beijo doce e diferente de todos os sabores do mundo. O que eu queria era aquele abraço que não carregava culpa. O que eu queria era o cheiro quase infantil e apaixonante. Além de tudo, eu queria a voz dela sussurrando ao meu ouvido uma velha música... Nós dois cansados de esperar para se encontrar... Nesta noite o amor chegou. Chegou pra ficar...
E foi infinita, enquanto durou, aquela noite inexplicável. Infinita, porque guardou, dentro de cada um, um pedacinho do outro. Infinita, porque ali o amor chegou. Ali, o amor chegou pra ficar...

Thiago M. Lacerda

Trechos em italico retirados da canção Nesta noite o amor chegou, do filme Rei Leão

terça-feira, 22 de junho de 2010

A carta

O dia amanheceu sob uma neblina incomum. Na verdade, não sei se fui eu ou o dia quem amanheceu diferente. Com a ponta dos dedos e do nariz gelados, fui até a rua e respirei fundo. Procurava algo como aquele cheiro verde da primavera, mas a única coisa que pude sentir foi a ardência fria do inverno. Olhei para o céu, e sob a luz do sol, sentí meu rosto enrrijecer-se num sorriso falso.
Lembro-me muito bem dos meus dias frios. Costumo guardar na memória cheiros e temperaturas. O cheiro ardente e o frio que gelava até o último fio de cabelo me trouxeram lembranças boas, e foi isso que salvou meu dia, pois descobrí que o inferno é gelado, e não quente como dizem. E eu estava nele...
Em dias como esses gosto de caminhar por aí, procurar um pouquinho de mim em cada lugar. Com pedras no caminho e flores na mão, vou deixando um pedaço a cada passo. Vez ou outra volto, como João e Maria atrás das migalhas de pão, procurando o caminho de volta, descobrindo de onde eu vim, pra talvez descobrir pra onde vou. Essa trilha de migalhas me levou até algum dia proximo ao mês de julho de 2005. Foi ali que tudo começou. No escuro do quarto, o único som audivel era a voz que dizia: escrevo-te essas mal traçadas linhas, meu amor, porque veio a saudade visitar meu coração. No outro dia, a carta realmente seria entregue. Em algumas horas, mais precisamente, pois já era alta madrugada, talvez tarde demais. Talvez tu não a leias, mas não importava, porque aquela era a última chance. A despedida derradeira. Ao me apaixonar por ti, não reparei que tu tivestes só entusiasmo.
Aquela noite estava tão fria quanto a manhã em que acordei hoje. Voltei à Assis Brasil, onde havia me perdido no passado. Começo a achar que o frio ardente é alucinógeno...
E para terminar, amor, assinarei:
             Do sempre, sempre, teu

Thiago M. Lacerda


Os trechos em itálico foram retirados da música A carta, de Erasmo Carlos e Renato Russo

Enforca-me

Minha liberdade já ficou pra trás
Não adianta fingir
Ninguém mais é capaz
De mudar ou mentir
Pois já sei que tudo que fiz
Eu faria outra vez igual

Dê-me mais corda
Continue, é disso que eu preciso
Motivos
Somente motivos

Dê-me mais corda
É nela que poderei me segurar
Antes de cair
Antes de partir

Isso, isso, dê-me mais corda
E se quiser espere
Pois cedo ou tarde
Eu mesmo farei...

Thiago M. Lacerda

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Ela foi embora

Lembro-me como se fosse hoje
Sob o céu estrelado
A lua como testemunha
E só tu ao meu lado

Prometeu-me amor eterno
Amor sincero
Imensa divida
Que até hoje eu espero

Selada com um beijo
Aquela promessa
De nada valeu
Foi tão falsa quanto o beijo que me deu

Disse-me: Não vou te deixar
Vou te amar
Estarei sempre contigo

E agora
Onde estás?

Thiago M. Lacerda

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Os planos daquele assalto

Nunca imaginei estar aqui hoje, nesse fim de tarde rosado de uma quarta-feira tediosa, sentado na varanda, esperando o tempo passar. Velho e acabado. Os anos foram cruéis. Vejo o sol nascendo e se pondo, sem nunca envelhecer. Quantos anos tens, sol? Bilhões, talvez... E ainda assim permanece sempre com esse explendor. Eu é que me deixei vencer pelo tempo. Deixei que as dificuldades me afogassem nesse mar de tristezas que é a vida. Não tive força suficiente pra conduzir meu barco.
Rugas e cabelos brancos. Olhos fundos. Minha idade eu nem lembro mais. Da minha vida eu pouco sei. Lembro-me dos meus planos. Dos planos daquele assalto. Quantas noites planejando em vão. Houveram dias em que esse objetivo não saia da minha mente. Meus olhos viam o alvo daquele furto. Meus dedos se mexiam frenéticamente pensando no toque suave. Sim, eram excelentes planos. Estava tudo pronto. Perfeito. O crime perfeito! Ou melhor, nem tão perfeito... Porque falhou... Não consigo acreditar. O plano daquele assalto... Sim, eu seria um ladrão, mas um ladrão feliz! Sabe o que eu pretendia roubar? Exatamente, eu roubaria teu coração! Esse era o plano! Planejei roubar teu coração, e quando me dei por conta, o meu ja havia sido roubado... Perdí meu coração... Os planos não deram certo, e fiquei vazio. Caminhando pela rua encontrei um pedra do tamanho da minha mão. Achei-a bonitinha, ajeitada. Coloquei-a no peito e saí por aí.
Hoje, cá estou. Com um coração de pedra, um coração perdido, um plano falho e um amor que nunca veio... Ai, ai, como consegui chegar até aqui?

Thiago M. Lacerda

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Eu nunca te abandonei

O ônibus estava vazio. Em plena segunda-feira, tudo estava vazio. Não havia engarrafamento. Não havia multidão. A única coisa que enchia a paisagem era a garoa fina esfriando a noite. Sentado em um dos únicos bancos ocupados, ele escutava música nos fones de ouvido.

A chuva cai lá fora
Estou cuidando de ti
Mandarei o sol iluminar
A escuridão do teu olhar

O silêncio além do mp4 era tão avassalador quanto a escuridão daquela noite órfã. Era amedrontador pensar que a solidão era tudo que havia naquele momento, e que a distância entre eles era enorme. A saudade chegou, e a imagem de meses atrás fechou-lhe os olhos. Ele corria, ela caminhava. Um desencontro. Um reencontro. Um adeus. Um beijo... Um beijo que encheu o coração e os pulmões, que dava vontade de gritar, de correr, de pular. E depois de tudo, estava ali, sozinho.

Enquanto você diz no seu conforto
Enquanto você me fala entre dentes
Poeta bom, meu bem, poeta morto

Poemas no ônibus as vezes fazem sentido. Músicas sempre fazem sentido. Tudo parecia levar-lhe a ela. Tudo, menos aquele ônibus. De súbito, foi tomado por intensa força. Levantou-se, desceu do veículo e dirigiu-se à rampa que levava a passarela. Sentia que algo o esperava do outro lado. Ali o movimento de pessoas parecia maior, mas elas cruzavam seu caminho como a chuva, que agora aumentava, sem tirar seu foco. Atravessou a passarela.

And I forget just why I taste
Oh yeah, I guess it makes me smile
I found it hard, it's hard to find
Oh well, whatever, nevermind

Hello, hello, hello, how low

Adentrou os portões, e viu-a, sentada em frente ao chafariz. Atrás, algo lhe dizia que era o momento. Ad Verum Ducit. Chegou mais perto. Mais perto. Tocou-a. Mais perto. Deu-lhe um "oi" discreto e um beijo apaixonado que durou uma eternidade. O som da água atrás era mais um pretexto para o romantismo, já que os fones de ouvido pendiam da gola da camiseta, tocando músicas ao léu. Mas uma música ainda podia ser ouvida.

Te amo
Amo seu sorriso
Se estou dormindo
Não quero acordar

Com um solavanco, acordou no mesmo ônibus vazio. Sua mente ja lhe pregava peças...

Thiago M. Lacerda


Os parágrafos em itálico são, respectivamente, trechos das músicas Bem-vindo (Thomas Krause e Lauren Kommers), Você só pensa em grana (Zeca Baleiro), Smells like teen spirit (Kurt Cobain, Dave Grohl e Krist Novoselic) e uma música da qual não lembro o nome, de autoria de um grande amigo meu: Daniel Braga.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Vida: cada um tem a(s) sua(s)

Não te impressionas com a vida? Pois a mim ela parece cada dia mais surpreendente. Sábado, descobri que nem sempre o que pensamos de nós pode ser visualizado pelos outros. Ontem, percebí que às vezes as pessoas voltam. Hoje, entendí algo que mudou minha visão completamente. Não, eu já conhecia os oculos e as lentes de contato! É algo diferente, quase uma filosofia de vida. Não tem nome. Acho que nunca terá. Mas é algo realmente avassalador, quando se pensa no assunto.
Pois bem: Quando nos tornamos, transbordando orgulho, pré-adolescentes, começamos a ver que a vida não é só diversão e nem tudo é facil. Começam os amores e as responsabilidades. Acreditamos que vivemos a parte mais dificil de nossas vidas, o que de pior o mundo poderia oferecer. Mas, eis que surge uma nova compreensão. Não sei ao certo quando ela chega, talvez tenha surgido somente na minha mente insana, mas pra mim ela surgiu hoje pela manhã, perto do fim dos meus dourados 17 anos. O que eu compreendi? Que não temos uma só vida. Não, não podemos morrer e usar as outras vidas que nem o Sonic. Também não temos 7 vidas como os gatos. Essas vidas são simultaneas.
Explico: Você, caro leitor, vê esse blog uma vez por semana, ou duas. Lê cada linha de cada texto sem nexo que eu escrevo. Acha que eu sou só mais um cara estranho que fala besteira e logo some. Já na faculdade, eu compareço todas as noites, de segunda a sexta (ou pelo menos deveria). Lá eu sou o vagabundo, o cara que joga sinuca, perde bastante, gosta de capuccino e não perde uma chance de matar aula. Em contraponto, na casa da minha vó, mesmo sendo preguiçoso, eu sou o futuro promissor, o futuro jornalista, que, apesar de não gostar de estudar, sempre tirou boas notas. Três faces de uma mesma pessoa. Mas ainda posso expor mais algumas. Chega o CLJ. Presidente. Vejam só, de vagabundo a presidente (dependendo do contexto, não tem muita diferença mesmo). Presidente do CLJ, coordenador de folclore, e mais que tudo, amigo. Um ambiente familiar, onde posso dizer seguramente que sou igual a todos. Descontraido, talvez menos preguiçoso que na faculdade...
Quem sou eu? Um grande sinico, obviamente! Ou talvez o maior ator da cidade! Quem sabe, eu seja só o Thiago, e cada um de vocês me olhe por uma face desse imenso prisma que chamamos de vida...

Thiago M. Lacerda

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Um café no boteco da esquina

Nunca me canso de dizer: são as coisas simples que embelezam a vida. Não é preciso correr atrás de dinheiro, de fama, de popularidade. Sem hipocrisia! Ninguém vive sem dinheiro, e é sempre bom ter um no bolso, mas a corrida desenfreada atrás de pedaços de papel é loucura. Antes, ganhavamos dinheiro para sobreviver, hoje, sobrevivemos só para ganhar dinheiro. Jornada dupla de trabalho. Hora extra. Trabalho aos fins de semana. Ultrapassar a meta de vendas. Mais hora extra. Jornada tripla? Um pouco mais de hora extra. Querer um futuro bom pros seus filhos é louvavel. Sonhar com aquela viagem pra Miami é legal. Viver somente pra isso... não vale a pena! Não se pode viver uma vida só por dinheiro, pois do dinheiro não se faz uma vida.
Um bom cafézinho em um copo médio, no boteco da esquina, acompanhado de um pastel, é simples. O cheiro do café, o copo quente e o vapor subindo na frente dos olhos não é tão simples. Tudo isso é barato. Tudo isso é facil de fazer. Nem por isso se torna ruim. Sentir um pouco da simplicidade da vida é bom as vezes. Caminhamos entre celulares, IPods, IPads, notebooks, mp3, 4, 5, 6... e esquecemos que ter tempo pra tomar um café com um bom papo na esquina também é muito bom. Compre uma TV de plasma de 42''. Se tiver dinheiro,  compre um carro novo, uma geladeira, um computador ultra-moderno e roupas novas. Se não tiver dinheiro, tenha um amigo. Amigos não podem ser comprados e não pedem seu dinheiro - pelo menos não os verdadeiros. Amigos te oferecem as melhores conversas, e o melhor de tudo é que é gratuito. A unica coisa que se pede é reciprocidade. Se não tiver uma onça no bolso, tudo bem, o preço pela conversa é simplesmente um bom papo outra hora...
Ficar até o meio da madrugada de uma sexta-feira fria sentado na tela do computador, conversando no msn, enrrolado nas cobertas e na frente de uma xícara de achocolatado bem quente é bem legal. Ficar até o meio da madrugada de uma sexta-feira fria sentado em frente à praça, conversando com seus melhores amigos, com uma camisetinha que deixa todo o vento te gelar, tomando um refrigerante, uma cerveja ou seja lá o que for, é muito melhor. E é simplesmente por isso que eu nunca canso de dizer: são as coisas simples que embelezam a vida!

terça-feira, 27 de abril de 2010

Manifestação

Compressão
O coração prestes a explodir

Impressão
É a primeira que fica

Depressão
Só pra quem não tem Deus

Expressão
Quem sabe tem o mundo na palma da mão

Repressão
No fim, nunca funciona

Discrição
Importante para tudo

Descrição
As vezes não interessa

Coração
Prestes a explodir...

Thiago M. Lacerda

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Pensando alto

Trabalhando, de camisa e jeans, não me sinto o mesmo. Não pareço aquele que, de bermudão e havainas, passavas as tardes quentes de verão tocando violão na praça. Mas não é só. Se minha imagem não condiz com o antigo, meus atos tampouco. "Tu é o cara que toca violão! Alegria!", acho que tenho ouvido isso bastante, e não a toa. Porque essas marcas insistem em mudar o meu mundo? Essas cicatrizes conseguiram por fim me deixar mais insensivel ao mundo. Não menos apaixonado, mas na verdade menos sensivel às alegrias da vida...

Mas vejo ao longe um pequeno raio de sol...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Pequeno raio de sol

De onde vem tanta alegria?
Está estampado em teu rosto
Em teu sorriso e teu olhar
Esse brilho de magia

De onde vens, menina?
Que lugar abriga tão meiga criatura
Que possa com um simples sorriso
Fazer o mundo inteiro brilhar?

Oh, não, ainda não estou louco
Teus olhos não mentem
De propósito, deixam escapar
Aquilo que os outros não sentem

Oh, não, ainda não estou louco
Existe uma aura de pureza que te envolve
Eu a vejo com esses meus olhos tristes
Refletidos no brilho intenso do teu olhar

Oh, não, acho que estás me deixando louco...



 Thiago M. Lacerda

terça-feira, 13 de abril de 2010

O que nos trouxe até aqui

"Afinal de contas, o que nos trouxe até aqui? Medo ou coragem? Talvez nenhum dos dois." Já dizia Humberto Gessinger na letra de Armas Quimicas e Poemas. Em meio a um problema enorme sempre pensamos "Ah, se aquilo não tivesse acontecido", mas ninguém percebe que as vezes o acontecimento que desencadeou todos os problemas também trouxe coisas boas e mudanças importantes. Lembro-me de odiar o dia fatidico em que eu encontrei aquela guria no saguão do colégio. Ela nem me deu bola, mas o destino fez com que nos aproximassemos. Foi a segunda guria de quem eu realmente gostei, e não preciso mentir quanto a isso, sofrí muito. Há quem dirá que não valeu a pena e que tudo que passei por ela foi só um atraso de vida, mas foi também por ela que aprendí a escrever. É, os primeiros poemas da minha vida a tiveram como inspiração. O nascimento desse blog se deu, por consequencia, pela necessidade de publicar os poemas que escrevia pensando nela. Por ela aprendí a tocar violão, fui pro CLJ. Será que deveria realmente odiar aquele dia? Mas costumamos perceber sempre o lado ruim das coisas, que normalmente é infinitamente menor que o lado bom.
Medo ou coragem? As vezes não basta termos coragem, pois o medo alheio também é um obstáculo. Já tive muitos medos, mas o medo que realmente mudou a minha vida, ou melhor, não permitiu que ela mudasse, não foi meu. Enquanto eu tive a coragem necessária pra chegar até ali, e pra seguir em frente, a outra parte tinha medo, e só o medo.
O que posso responder? Talvez, nenhum dos dois...

Thiago M. Lacerda

quinta-feira, 8 de abril de 2010

A nossa velha infância

Sozinho em casa. Sem aula. Sem movimentação. Em plena quarta-feira. Decidí tomar uma caneca de café com leite, e liguei a TV para assistir qualquer coisa enquanto preparava a bebida. Sintonizei em um canal da TV paga que há muito não via. Passava Pokémon. Aquilo me trouxe inumeras lembranças e sensações. Extasiado, sentei-me, bebendo meu café quente e pardo, e prendí-me aquele aparelho como há muito não fazia. Vozes conhecidas gritavam dentro de uma caixa grande com uma tela. Olhando por esse ponto, uma situação completamente insana. Mas, a magia do desenho animado me envolvia de tal maneira que deixei o msn e o violão no quarto para assistir aquilo.
Ví o filme todo, envolvido no frio ainda mais mágico que cruzava Porto Alegre naquela noite, bebendo um fumacento café com leite. Me sentí criança de novo. Lembrei-me das madrugadas vendo Dragon Ball e Samurai X. Das tardes brincando de Digimon e Shurato. Das horas e horas desenhando os personagens que me encantavam dentro daquela caixa louca. No colégio, era só esse o assunto. O pátio e as salas do Anne Frank, se tivessem ouvidos, estariam cansados de ouvir-nos falar sobre o último episódio de Inu Yasha ou sobre o mito do Dragon Ball AF.
Pensei em como era boa aquela vida, apressando o Tio André da van escolar pra chegar a tempo de assistir Dragon Ball Z. Essas eram as maiores preocupações: Não perder os desenhos e andar de bicicleta com os amigos. Mas um dia a gente cresce, mesmo que isso demore, e surgem os amores, as provas, as festas e os empregos, e toda aquela pureza da infancia se vai, porque a vida, que se torna cada vez mais dificil, vai calejando as pessoas, tornando-as insensiveis. Felizes são aqueles que ainda conseguem manter, mesmo que seja la no fundo, um pouco da criança que um dia foi.
Pelo menos um dia, é bom ser criança, cair, chegar em casa com as pernas roxas, com vontade de ver desenho, correr na praça e receber um xingão da mãe porque sujou toda a camiseta branca. Quem é criança sabe viver melhor, pois a inocencia e a sinceridade da infância podem solucionar todos os problemas.

Thiago M. Lacerda

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Dona desses olhos

Dos olhos azuis
Eu nunca esquecerei
Incontestavel é
A beleza que neles sempre verei

Dia e noite
Esses olhos me acompanham
Insone e louco
Aos poucos me tornaram

Dona desses olhos
Esteja sempre comigo
Inevitável é a pergunta:
Amizade ou paixão?
Thiago M. Lacerda

quarta-feira, 31 de março de 2010

Acabou

Amor:
Como tumor
Nasce no coração da gente
Em meio a amizade
Vemos tudo diferente

Cresce se alimentando de sorrisos
Olhares, músicas e situações
Pouco a pouco toma o sentimento
Que antes dominava as ações

Apodrece a amizade que antes existia
Esse câncer apaixonado não tem pudor
Não tem medo e nem concede anistia

Infelizmente, para retirar do peito o amor
É preciso ceifar também a amizade
Pois juntos sempre estarão, bem ou mal,
Guiando nossas vidas sem imparcialidade

Thiago M. Lacerda

terça-feira, 30 de março de 2010

Depois do sol

Chega, com toque frio
E põe o medo no meu coração
Com esse sopro de outono
Faz do inverno a minha razão

Vejo no fundo dos teus olhos
Que ainda carregas paixão
Sinto no tom da tua voz
Um toque de emoção

Quando a lua estiver encoberta
Eu estarei aqui
E do teu lado continuarei
Mesmo quando ninguém mais acreditar em ti

E se as estrelas surgirem no céu novamente
Me prometa, me ame, queira mais que minha amizade
E comigo fique até o sol nascente
Daqui, pra sempre, pra toda eternidade

Thiago M. Lacerda

segunda-feira, 29 de março de 2010

Não diga

Não me diga que é dificil
E que não vai mais voltar
Não me diga que foi triste
E que o tempo vai curar

Não quero consolo
Pois só o triste se deixa consolar
Quero alegria no coração
Sentir a verdadeira sensação de amar

Thiago M. Lacerda

Aonde quer que eu vá

Não sei ao certo
Se é só ilusão
Se é você bem perto
Ou se é intuição

E aonde quer que eu vá
Levo você no olhar

Herbert Vianna

quarta-feira, 24 de março de 2010

De que?

De futebol e política
Todo mundo sabe um pouco

De músico e de louco
Todo mundo tem um pouco

De vida e morte
Todos falam muito pouco

De arte e cultura
Não querem saber nem um pouco

De sexo e reality show
Ninguém sabe pouco

E agora, o que faremos?

Thiago M. Lacerda

segunda-feira, 22 de março de 2010

Rangido

Não era eu naquele quarto. Não poderia ser eu. Naquela escuridão toda, os olhos eram as únicas coisas que ainda tinham luz própria, mas não era a luz da esperança. Era a luz do medo e da vingança. Sentado na velha cadeira de balanço que um dia sustentou meu bisavô, eu escutava um rangido secular. Ah, aquele rangido. Todas as noites, antes de dormir, aquele som atravessava as paredes de concreto do velho casarão e invadia meus ouvidos. Eu me lembrava daquele velho decrépito que não saía da cadeira. Tinha a barba longa, um chapéu sempre enterrado sobre a cabeça. Os olhos azuis, fundos, em meio ao rosto enrrugado trasmitiam pena a quem os visse. Não me lembro direito da sua voz. Na verdade, a única imagem que permanecia na memória era do rangido da cadeira de balanço de onde meu bisavô nunca saía. Agora quem estava lá era eu, e pela primeira vez em décadas pude ver nos espelho meus olhos brilhando outra vez. De amor? Não, meus olhos não brilharam de amor desde a minha juventude, quando se tornaram opacos... para sempre.
Eu era o decrépito agora, e o rangido era culpa minha. Muita coisa ainda era culpa minha. Não fui eu quem matou o velho! Mas ainda assim existia muita culpa pesando sobre meus ombros. Culpa... Culpa de quê? Porque eu me sentia culpado? A culpa foi de quem me fez assim! Quase meio século de amargura por um amor de juventude... Por alguns amores de juventude. Uma vida inteira de trabalho, reconhecimento e ascenção não puderam apagar a mágoa que se instalou no coração. E agora, eu me culpo por tudo que aconteceu. É verdade, não adianta jogar a culpa nela. Nem sei se ainda vive. Tudo aconteceu há tanto tempo.
Agora, só uma culpa me interessa. E essa será a última culpa que terei na vida.

Girou o tambor. Um movimento de dedo. Um estampido. E nunca mais se ouviu falar...

Thiago M. Lacerda

sexta-feira, 19 de março de 2010

Muda sedução

Ela era loira e me observava por detrás do balcão do consultório. Fingindo que digitava, ela sorrateiramente voltava seus olhares para mim a todo minuto. Eu, afundado em um poltrona confortavelmente amarela, fingia que não havia percebido. Me fazia de salame. Olhava para a televisão como se nada ao meu redor importasse, mas eu sabia que ela estava lá e me observava. Desviei rapidamente a atenção, e ao voltar não mais a encontrei. Espichei os olhos para olhar dentro das salas cujas portas se mantinham abertas. Nada. Procurei em toda a sala de espera. Uma senhora muito elegante, segurando desplicentemente sua bolsa. Um homem gordo e careca empacotado em um quente terno. A outra moça da recepção, escrevendo em alguns papéis. Mas nada da loira. Nem sinal...
Lentamente, fui tomado por uma sensação estranha. Um cheiro doce invadiu minhas narinas, e sem o menor aviso, aquele anjo loiro tocou meu ombro esquerdo - Me acompanhe, por favor. Aquelas palavras pronunciadas por um misto de temor e desejo me aqueceram o coração, e eu fui, como um cordeiro arrastado pelo lobo.
Entrei e, olhando de viés, vi sua pequena mão de belas unhas brancas girar a chave - Pode tirar a camisa. Obedecí, e num segundo ja me encontrava deitado no balcão ao lado. Pressionou-me os pulsos, e logo em seguida senti beliscar meu peito. De olhos fechados, eu imaginava aquela situação. Não tinha coragem de abrir os olhos e o suor frio ja me escorria nas temporas, mas, desculpe a vulgaridade, eu sentia aqueles chupões no peito, subindo levemente. O que faço? O que digo? Deixo-me ser conduzido? O toque quente de suas mãos me encontrava pouco a pouco. Seu perfume estava tão impregnado em mim que já confundia meus sentidos. Lá fora, aquelas pessoas nem imaginavam o que se passava naquela salinha. Ou talvez imaginassem, pois os olhares da loira diziam tudo. Não sei quanto tempo se passou ali dentro, mas em um dado momento os beliscões terminaram. Um momento de alivio. Não sentí mais nada, além do perfume que ainda enchia o lugar. Silêncio - Pode colocar a camisa, senhor. Em alguns minutos o resultado do eletrocardiograma estará pronto.

Thiago M. Lacerda

terça-feira, 9 de março de 2010

Estrada da lagoa

Conversavamos todos à beira da praia. Somente o luar e as estrelas iluminavam àquele imenso cenário. A trilha sonora era o som do mar quebrando na beira. O filme era nossa vida. Em dado momento, não sei exatamente que hora, se cedo ou tarde, talvez no meio da madrugada, decidimos ir embora. Na praia de cidreira, eu só sabia voltar pra casa pela avenida central, cujo nome eu nem sabia, mas um dos meus amigos disse-me que voltariamos todos juntos pelo caminho que eles sempre faziam, e quando estivesse no centro eu iria me achar rapidinho.
Caminhamos sob o lençol escuro pontilhado de estrelas, e quando percebí, não sabia onde estava e não tinha a menor idéia de como havia chegado ali. Em meio a uma estrada que cortava as dunas e a esparça vegetação, não haviamos feito absolutamente nada de errado, mas quando um de nós gritou "É a policia!" o primeiro instinto foi correr. Uma viatura cruzava a noite naquela estrada deserta em nossa direção. Estava na minha reta, e ao chegar em um morrinho de areia, me abaixei, enquanto meus amigos corriam, cada um para uma direção. Imaginei uma cena de filme, aquela viatura passando por cima do morrinho, e consequentemente de mim também, e seguindo reto, assim me deixando para trás, livre. Pena que nesse momento o carro parou sobre o monte de areia fina e branca, e todos nós, que antes conversavamos na beira da praia, levantamos as mãos, e tentamos conversar com os policiais armados. Não sabiamos qual era o nosso crime e nem porque corremos. Aos poucos pudemos baixar os braços, e conversar quase que intimamente com os dois policiais.
A noite se estendeu por alguns minutos antes de o segundo carro estranho daquela madrugada surgir. Era um modelo esportivo amarelo. O motorista perguntou algo a um dos policiais e seguiu. Logo atrás veio o terceiro carro, algo parecido com uma Belina ou uma Caraván, verde musgo bem velho. Não sei o que o condutor falou ao policial, mas sua reação foi imediata. No meio da briga que começou, o carro amarelo volta e seu motorista desce do carro para tomar parte na discussão. Vendo isso, o outro guarda foi ao auxilio de seu parceiro. Justamente nessa hora, vimos nossa fuga, e em uma corrida desenfreada, seguimos aquela estrada estranha até avistar os luminosos prédios do centro de uma praia que não parecia a conhecida Cidreira, mas que sabiamos que era. Chegamos enfim no centro, e com toda sinceridade, continuei sem saber o caminho de casa.

Thiago M. Lacerda

Sentido da palavra

Se esqueceres o sentido da palavra amor
Considera-te o mais desafortunado dos sortudos
Pois do teu coração não brotará mais o sofrimento
Tampouco a felicidade irá encher teus olhos

Quando o fogo da paixão não mais te esquentar
Não haverá carinho que te acalente
E nem luz que faça com que brilhe teu olhar
O mundo opaco será o único ambiente à volta

Na verdade, olhe pra mim
Cruze minhas olheiras profundas
E olhe no fundo dos meus olhos

Se esqueceres o amor
Serás assim!

Thiago M. Lacerda

domingo, 7 de março de 2010

Chorem

Onde é que a sanidade beira a loucura?
Qual é o momento exato que cruzamos a fronteira?
Muito se arrisca que flerta com a incerteza
E quando o sol se por, isso será facilmente percebido

Quando a luz se for, a lua regerá os loucos
Os apaixonados e os solitários
Sob o lençol de estrelas, cada um poderá sofrer em paz
E o reflexo da lua nos olhos será eterno

Sim, somente o reflexo da lua traz de volta a vida
Àqueles olhos que há muito já não brilham
E que, no fundo do olhar dos outros
Não tem sentimento nenhum

Mas quando o luar não mais estiver
E o sol nascer num novo dia
Chorem, pois também não estaremos mais entre vocês

Thiago M. Lacerda

quarta-feira, 3 de março de 2010

VaIdade

Do orgulho à vergonha vai a nossa idade. Queremos que passe rápido, que nos tornemos mais velhos o quanto antes, e quando o quanto antes chega, o arrependimento torna a idade um segredo. A vida começa aos 40. 30 é a idade perfeita. Quem aproveita mesmo é quem tem seus 20 anos. Cada época da nossa vida pode ser taxada como a melhor, ou a pior. Esse pessoal de 20 ai não tem cabeça pra nada, é muito novo. A geração dos quarentões já não consegue se atualizar. Tudo tem seus prós e seus contras, e para não nos sentirmos mal, procuramos motivos para nossa idade ser melhor que as outras.
Botox, alimentação saudavel, exercicios fisicos, cremes faciais. É verdade, tudo isso funciona, e se chama estética. Mas não é somente o que está à vista de todos que faz de nós velhos ou novos. Certa feita lí um texto da Lya Luft sobre o assunto. Lembro que perto do fim do texto, ela falava que as cirurgias plasticas podem tirar os pés de galinha, mas ainda não inventaram procedimento cirurgico que renovasse o brilho dos olhos. Quem vive mal, perde o brilho do olhar. Um olhar opaco envelhece mais do que rugas e cabelos brancos, e sempre trará novas rugas aos rostos rejuvenescidos. Isso porque o corpo só pode se manter jovem se o coração e a mente também o estiverem. Um coração triste ou uma mente fechada não consegue manter bonito um corpo.
O sorriso radiante e a luz que se esconde no fundo de cada olhar são a unica maneira de reconhecer um jovem, tenha ele 13, 27, 45 ou 70 anos. E isso, nenhum tratamento estético pode mudar.

Thiago M. Lacerda

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O banco

Quantas pessoas já sentaram nesse banco?
Sentou índio, negro, mulato e branco
Rico e pobre, jovem ou não
O banco não distingue
Credo, cor ou religião

Nessa noite, é a chuva que ocupa o banco da praça
Agora é umido o assento
Que já sustentou amores e amigos
Ja escutou cantadas e canções
Passou por invernos e verões

Cor sobre cor
Tinta sobre tinta
Ninguém mais sabe
Qual é o verdadeiro banco

Quem passa nem da bola
Quem senta, logo levanta e sai
Mas quem, de longe, observa
Sabe que não é só mais um pedaço de madeira
Porque ali se passaram coisas
de muita importancia ou besteira

Naquele banco ficaram pedaços de corações
Mas hoje, é a chuva que embala as emoções

Thiago M. Lacerda

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Cinza

O coração endurece
Se torna frio e sem cor
Quando desaparece,
Nele, o amor

Os olhos perdem o brilho
De tão opacos, perdem a visão
E nunca mais vêem paixão
Para salvar o coração

É desse fim de vida que brota o frio
E agora me pergunto:
Ainda há algo que preencha esse vazio?

Thiago M. Lacerda

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Bolha de cristal

Não sei ao certo quando esse sintoma começou, mas o fato é que certa noite a solidão havia tomado sua vida de tal maneira que desde então viveu calado, mudo, anestesiado.
A tarde quente caíra horas atrás e a noite ja se prolongava na sacada do apartamento. A Av. Central mantinha um fraco fluxo de automóveis e pedestres iluminados pelas luzes amareladas dos postes, dando assim um ar triste à tão moveimentada Capão. Nessa solitária sacada, uja noite parecia ainda mais avançada, um rapaz, deitado na rede, lia a página 357 de uma velha história. São as velhas histórias que tocam fundo no coração da gente, e ninguém sabe porque, mas marcam nossas vidas. A noite corria assim como as páginas do livro. Chegara na 394.
"Entretanto, antes de chegar ao verso final já tinha compreendido que não sairia nunca daquele quarto, pois estava previsto que a cidade das miragens seria arrasada pelo vento e desterrada pela memória dos homens..."
Os mosquitos há muito não lhe tiravam a atenção, mas um especial tirou-o da leitura. Pousou em seu ombro, e sob o jugo de um tapa feroz, padeceu ali, deixando que seu algoz voltasse à leitura.
"... no instante em que Aureliano Babilonia acabasse de decifrar os pergamihos e que tudo o que estava escrito neles era irrepetivel desde sempre e por todo o sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade na terra."
Chocado com o fim do imenso conto, sentiu um bater de asas sutil. Pensou no bater de asas das borboletas. Desviou o olhar do livro, e percebeu que na verdade eram bolhas de sabão que lhe rodeavam. Em cada bolha via um trecho de sua vida. As imagens passavam lentamente refletidas naquelas esferas. Porem, o reflexo da ultima mudou sua vida para sempre. Viu uma frase metalica na frente de um chafariz: Ad Verum Ducit*. Largou o livro, deixou-o em cima da mesa junto do celular e das chaves, saiu porta afora, e deixou para sempre aquele mundo de ilusões.

Thiago M. Lacerda

* Ad Verum Ducit, do latim, significa "Conduzir à verdade"

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Hipnose

Olhando o cinzento céu de uma tarde chuvosa me sentí estatico, paralisado, anestesiado. Por um breve segundo o sangue parou de correr nas minhas veias e o coração findou seus batimentos. O ar congelou no peito, e aquele frio que queima tomou conta do meu corpo. A chuva continuava a cair, mas eu não mais sentia seu toque doce e brevemente gelado. A imagem das nuvens negras emolduradas pelas copas das àrvores ficou marcada na minha mente, e é a única coisa que lembro antes de tudo escurecer. Fechei os olhos. E ao abrir, a sensação mais sublime da minha vida foi-se, como num piscar de olhos...

Thiago M. Lacerda

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Dos olhos fundos

No espelho, aquele rapaz
Com seus olhos opacos me mira
Sinto a dor do seu coração
No jeito fraco como respira

Ó, doce ilusão
De que um dia esses olhos brilharam
Nesse reflexo posso ver
Que as feridas nunca sararam

As olheiras profundas destacam
O que o olhar semi-aberto tenta esconder
A ferida profunda na alma
Que cada dia mais o faz adoecer

Sofre do mal de amor
A doença da insonia que rouba toda luz
Com uma corda no pescoço
Para o fundo do poço o conduz

A essa altura, saí da frente do espelho
Pois ja era alta madrugada
E depois de toda essa análise
A alma ainda teria que sofrer calada

Thiago M. Lacerda

Que dia é?

A vida, com tantas incertezas, torna cada dia único, e a chance de tudo acabar bem, infinita. Diariamente reclamamos que nossas vidas bem que podiam ser mais certas, e parar de nos surpreender um pouco. Mas a certeza é inimiga da esperança. Um futuro certo não pode alimentar esperanças de que algo diferente vai acontecer. É certo. Está previsto. E não será mudado... Na verdade sempre odiei essa máxima: "Tudo está previsto, e nada será mudado". Prometí a mim mesmo que nunca a diria, e até agora cumpro com a promessa. Pensando bem, já prometi muitas coisas à muita gente. Nem sempre cumprí. Algumas vezes, nem deveria ter cumprido mesmo. Noutras, me arrependo de não ter dado valor à minha própria palavra. Nas ultimas semanas fiz uma promessa que, outrora, já nao pude cumprir. Prometí que nada mudaria. E não vai mudar mesmo, mas nem por isso devo desistir do que pra mim, ainda pode tornar incerto o futuro.
Sinceramente, não sei de onde tiramos essa mania de prometer tudo, de tentar tornar previsivel aquilo que nunca o será. O futuro a Deus pertence, e ninguém mais pode saber antes que se torne presente. Não existe futuro certo, mesmo que agora soframos com a aparente firmeza com que as coisas parecem acontecer. O que há é o presente. Aceite-o como um presente real, viva-o como se a cada dia fosse presenteado com uma vida nova, repleta de novas chances, e novas experiencias, afinal, essa é a unica certeza: Todo dia é dia de dar uma nova chance.
Thiago M. Lacerda

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Só começou

No céu, teus olhos brilharam pra mim
Desculpe, não dá mais pra viver assim
Perto de ti, não havia nada de mal
Agora tudo pra mim é banal

Há quanto tempo não te beijo?
Não levo nos lábios o teu sabor
Agora teus olhos eu já não vejo
Então que história é essa de amor?

Sem final feliz
Não acabou
Eu não vou desistir
Tudo só começou

Thiago M. Lacerda

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Onde está a menina?

Eu aproveitava, inocente, meu verão. Sentado em uma cadeira de praia, recebia toda a luz que o sol me dispunha, enquanto me refrescava com o vento que por ali passava. Tudo tão bom. Meu mundo só não era cor de rosa porque rosa é enjoativo... Bom, estava eu em minha cadeira de praia, sentindo cada vez mais a felicidade do verão correr nas minhas veias e enxer meus pulmões, quando o céu enegreceu ao longe. De súbito, eu me encontrava debaixo da chuva, em meio a uma violenta tempestade que, sem explicação, caiu sobre mim. Não sei de onde veio e nem porque.
Meu verão se foi, e esse temporal tomou seu lugar. Ainda não sei o que fazer, sinto como se tudo fosse um pesadelo, e que em segundos eu posso acordar na minha bela cadeira de praia, só um pouco torrado de sol. Mas não, não consigo acordar. Num sonho, pouco antes de ver a tempestade, uma menina maquiada me virava o rosto. Onde está a menina? Juro, vi sua face nas nuvens negras que clareiam a cada trovão, mas agora ela, que até pouco tempo estava ao meu lado, não está mais aqui. Onde está a menina?

Thiago M. Lacerda

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Não existe luau sem violão

É inevitável. Fim de ano anima qualquer um. Na verdade, o verão tem essa magia. Talvez seja o sol e o vento agradável, ou a proximidade com Natal ou Carnaval, mas que a alegria toma conta das multidões nessa época, isso ninguém pode negar. Mesmo aqueles que não vão pra praia, ou até os que passam o dia trabalhando, podem sentir esse cheiro diferente no ar. O aroma que enche os pulmões e redobra a energia é grátis, livre, e não vê credo nem cor.

O verão chega trazendo as expectativas pro ano que em breve começará. Paz, saúde, amor, dinheiro, corpo sarado. Quem não quer? Passam as sete ondinhas e derramam-se os champagnes, e cá estão as tão desejadas férias. Janeiro corre como a típica brisa suave de verão. Não existe janeiro sem descanso, assim como não existe praia sem mar, festa sem pegação ou luau sem violão. Não existe também fevereiro sem festa. Seja em Cidreira ou Salvador. Planeta Atlântida e Carnaval dominam o litoral, e de norte a sul o Rio Grande balança.

Praia, violão, fogueira, churrasco, mar, festa, futebol, caipirinha, volei, praça, sol, musica, mais festa, e festa, e festa... Quase um quarto do ano repleto de tudo isso e um pouco mais. Não necessariamente nessa ordem e intensidade, mas quase sempre com um pouco de cada. A estação dos amores rápidos, ou como já diz o termo popular, dos amores de verão pode, além de tudo isso, nos trazer de brinde um amor de verdade, que florescerá na primavera que chega. Assim como os amores, as amizades podem ser rápidas, ou com alguma sorte e talvez um toque do destino, tornarem-se fortes laços. É, o verão é realmente a estação de testes. Testamos amores e amizades, mentiras e verdades, e no fim ficamos somente com o que interessa, com o que pra acabar não há pressa. Mas, permeando tudo isso, o tempo se esgueira, e pouco a pouco nos leva ao fim, que também não deixa de ser o inicio.

Enfim chega março, e tudo vai voltando ao normal. O cheiro de alegria vai embora junto com a brisa e a maresia. Os violeiros abandonam a praia, enquanto as fogueiras apagam lentamente. A pele descasca, e com ela o verão se vai. Começa então o ano que, de uma maneira ou de outra, termina bem, pois o verão não tarda a chegar.


Thiago M. Lacerda

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Nem mais conhecido

Se tivesse nascido em berço de ouro, talvez essa atitude fosse justificada. Mas nascerana favela, onde cresceu no meio de muitos como ele, pobres. Realmente, sua infância fora pobre, mas feliz dentro do possível. Aquilo não parecia do seu feitío. Ou pelo menos não como eu o conhecera.
Dias atrás, caminhava em uma rua movimentada quando encontrei esse velho amigo. Há tempos não o via. Soube que ganhara enorme fortuna como herança. Alguém como essas tias bilionárias que não conhecemos e parecem existir só nos filmes morreu, deixando para o rapaz uma quantia inimaginavel.
Mas lá estava ele, saindo de um polido carro preto, e vestindo, impecável, um terno da mesma cor do automóvel que o levara até ali. Parecia despreocupado. Parou em frente a um fino restaurante, junto de um grupo que o esperava.
Apressei o passo para encontrá-lo. Queria perguntar-lhe da vida, matar a saudade, marcar algo como nos velhos tempos. A principio me olhou receptivo. Dirigiu o olhar aos amigos que o cercavam, e novamente a mim, agora mais preocupado. A pele parda tornava-se cada vez mais pálida. O cabelo raspado que levava desde a infância parecia esquentar-lhe a cabeça, pois no rosto já lhe escorriam algumas gotas de suor. Os ombros, sempre arqueados, alinharam-se bruscamente.
Passei ao seu lado sem apresentar a mínima intimidade, mesmo porque, já me virava o rosto. Escutei um suspiro aliviado ao passar e, triste, concluí que não mais ou conhecía. Só passei reto pois um dia fora o meu amigo.

Thiago M. Lacerda

domingo, 3 de janeiro de 2010

Saber amar

Tentei a lua roubar
Insanamente tentei
Queria te-la pra te dar
Não consegui
Triste, descobri
Que não sei voar
Mas consolei-me
Pois contigo aprendi
Que mais importa saber amar

Thiago M. Lacerda