quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Crocodilo

Invocando toda a coragem de seus pais na década de 60, marchavam em direção ao Palácio do Planalto. Centenas de estudantes relembravam os tempos obscuros que sucederam ao golpe de 64, enquanto entoavam o canto imortalizado na voz de Geraldo Vandré:

Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não

Os tempos eram realmente dificeis, mas aqueles jovens pareciam ter perdido o medo. Deixaram para trás quaisquer que fossem seus temores, e seguiam num só coração pulsante e revoltado. No prédio do governo, o Presidente e seus acessores escutavam, esses sim temerosos, o canto unissono dos revolucionarios que se lançaram de vários estados em busca de um novo futuro.

Nas escolas, nas ruas
Nos campos, construções
Caminhando e cantanto
E seguindo a canção

A marcha chamava atenção, e pouco a pouco os observadores tornavam-se ativos participantes dessa movimentação. Os escandalos escancarados, os altos impostos, a falta de incentivo e as eternas dificuldades do povo brasileiro podiam ser vistos nos olhos úmidos daquelas pessoas. Negros, mulatos, brancos, índios. Não havia cotas. Não havia racismo. Não havia diferença. O que existia era irmandade.

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem saber faz a hora
Não espera acontecer

Alguns políticos, conhecidos por seus escandalos no cenário brasileiro, se juntavam, envergonhados, aos valorosos jovens que os enfrentavam. Outros remoiam solitários suas tristezas, lembrando que há anos eram eles no lugar daqueles estudantes, e agora, os jovens revolucionários da ditadura renasciam em seus corações.

Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
E ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão

O Senador acorda, e vê-se em seu luxuoso quarto em Fortaleza. Não é dia de ir ao senado. Lágrimas umedecem seu rosto e seus musculos enrrijecidos lembram-no de seu sonho. Ele chora mais uma vez, e em seguida pede o café da manhã ao seu mordomo pago pelo governo.

Thiago M. Lacerda

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Imagine

Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz. Um mundo onde as pessoas não tenham medo de viver e conviver com todos. Parece sonho, ficção. Porque não parece simplesmente... futuro? Sim, futuro. Entendo o espanto. Imagine que não há posses. Eu me pergunto se você pode. Talvez eu não pudesse. Mas o futuro está em nossas mãos. O destino somos nós que fazemos. Então, qual é o problema?
Pense num mundo sem ganância ou fome, uma irmandade dos homens. Eis o problema: Se imaginar é dificil, fazer é pior... Acomodados, deixamos de tentar, de correr atrás de um futuro melhor. Sentados no sofá da sala é que não teremos esse mundo. O futuro não vem até nós. O tempo passa e o passado fica à nossa volta. Imagine que não há nenhum país. Não é dificil imaginar esse mundo onde as fronteiras somos nós que criamos. O limite é a nossa imaginação. Uma só lingua, um só coração pulsante. Imagine todas as pessoas partilhando todo o mundo...


Os trechos em itálico e negrito foram traduzidos da música Imagine, de John Lennon.

Thiago M. Lacerda

terça-feira, 20 de outubro de 2009

De volta às crônicas

Outro dia, sentado num banco em frente ao diretório do prédio 5 da PUCRS, lí uma frase marcante que havia sido pintada também nas paredes do Instituto de Letras da UFRGS. Pra que(m) serve teu conhecimento? Li-a em voz alta, e imediatamente recebí a resposta de um amigo sentado ao lado: Pra poder trabalhar bem e ganhar dinheiro. Como que por reflexo, utilizei-me de uma expressão que aprendí com a minha dinda e que traduz bem o que essa resposta me trouxe. Disse simplesmente "que triste".
Que coisa mais triste pensar que todo o conhecimento que adquirimos durante uma vida inteira serve somente para recebermos pedaços sujos de papel. Horas e horas das nossas vidas por uma tira de papel tingido. Saber que nossos sonhos, nossos castelos e o nosso mundo de encantos onde tudo é belo (como diria Tim Maia) construidos lentamente não nos servem de moradia. Servem pra alugarmos para idéias alheias. Nossos inquilinos tem mais dinheiro, e sem eles não podemos sustentar essa linda mansão que construimos sem a minima utilidade.
Não podemos mais manter nossos ideais. Na verdade, ter uma ideologia já é demodê. Pensar e agir é coisa do passado. É tempo de ser igual. Tornar o mundo uma só massa popular... sem massa encefálica. Que triste...
Thiago M. Lacerda

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

É assim

Quando estou ao teu lado o tempo pára
A felicidade se estampa na minha cara
Meu coração, alegre, dispara
E até a maior das feridas instantaneamente sara

Thiago M. Lacerda

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Dói em mim

Não adianta tentar
Tudo em nós é diferente
O que dói em um
O outro não sente

Aquilo que te ilumina
Só me traz azar
Não passam de cordas
Prestes a me enforcar

O medo que tenho
É te perder
Mas tua maior preocupação
É justamente me ter

Triste saber
Que o queres
É o meu não querer

Thiago M. Lacerda

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Porque me queres assim?

Juro, não foi o que eu quis
Essa escolha, não fui eu que fiz
O que eu queria era um sim
O meu sonho era te ter pra mim
Mas se nossos destinos insistem em nos separar
O que posso fazer, além de aceitar?

Thiago M. Lacerda

domingo, 11 de outubro de 2009

Baile de máscaras

A vida é um baile de máscaras
Cada um com seus detalhes
Seus segredos escondidos
Sob a bela face de ninguém

Eu uso uma máscara fúnebre
Embaixo dela, só o vazio
Simplesmente uma casca
Um nada...

Talvez eu seja realmente
Só a máscara...

Thiago M. Lacerda

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Arlequim

Se pisas em mim
A culpa é minha,
Eu quís assim.
Quis pelo medo de perder
Medo de ver o fim

Mas se depois perguntarem
Valeu ter sido dela um arlequim?
Será com brilho no olhar
e sorridente que direi sim...
Thiago M. Lacerda

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Outra vez

A vida nos torna tão insensíveis
Ao seu próprio toque
Que ficamos desatentos
E não percebemos
Quando o amor bate à porta

Deixe o vento trazer
A verdade aos ouvidos
Deixe a luz lhe revelar
A verdadeira face do amor

Não aceite a cegueira
Que a vida lhe impõe
Pois o sol pode brilhar
Outra vez

Thiago M. Lacerda