quarta-feira, 30 de junho de 2010

A noite

Naquela noite o frio estava confortavel. O unico calor necessario era o que aquecia os nossos corações. O céu era com certeza o mais estrelado do ano, e até a lua parecia ter se aproximado para nos ver. A mão macia no meu rosto não deixava duvidas de que naquele 17 de julho o amor havia renascido. Em meu ouvido uma música soava: Nesta noite o amor chegou. Chegou pra ficar... Por alguns segundos pensei ser um sonho, mas os lábios que se aproximavam dos meus não me permitiam duvidar. O hálito quente vinha do único lugar que poderia fornecer calor naquela noite gelada: o coração. O resto não mais existia. A rua estava deserta. O olhar vigilante da lua não nos encabulava mais. O som do vento nas folhas era ainda mais acolhedor. Toda a natureza conspirava a favor. Então, quem seria contra? O amor era tanto que a falta de pudor sequer passou pela minha mente. O que eu queria era aquele beijo doce e diferente de todos os sabores do mundo. O que eu queria era aquele abraço que não carregava culpa. O que eu queria era o cheiro quase infantil e apaixonante. Além de tudo, eu queria a voz dela sussurrando ao meu ouvido uma velha música... Nós dois cansados de esperar para se encontrar... Nesta noite o amor chegou. Chegou pra ficar...
E foi infinita, enquanto durou, aquela noite inexplicável. Infinita, porque guardou, dentro de cada um, um pedacinho do outro. Infinita, porque ali o amor chegou. Ali, o amor chegou pra ficar...

Thiago M. Lacerda

Trechos em italico retirados da canção Nesta noite o amor chegou, do filme Rei Leão

terça-feira, 22 de junho de 2010

A carta

O dia amanheceu sob uma neblina incomum. Na verdade, não sei se fui eu ou o dia quem amanheceu diferente. Com a ponta dos dedos e do nariz gelados, fui até a rua e respirei fundo. Procurava algo como aquele cheiro verde da primavera, mas a única coisa que pude sentir foi a ardência fria do inverno. Olhei para o céu, e sob a luz do sol, sentí meu rosto enrrijecer-se num sorriso falso.
Lembro-me muito bem dos meus dias frios. Costumo guardar na memória cheiros e temperaturas. O cheiro ardente e o frio que gelava até o último fio de cabelo me trouxeram lembranças boas, e foi isso que salvou meu dia, pois descobrí que o inferno é gelado, e não quente como dizem. E eu estava nele...
Em dias como esses gosto de caminhar por aí, procurar um pouquinho de mim em cada lugar. Com pedras no caminho e flores na mão, vou deixando um pedaço a cada passo. Vez ou outra volto, como João e Maria atrás das migalhas de pão, procurando o caminho de volta, descobrindo de onde eu vim, pra talvez descobrir pra onde vou. Essa trilha de migalhas me levou até algum dia proximo ao mês de julho de 2005. Foi ali que tudo começou. No escuro do quarto, o único som audivel era a voz que dizia: escrevo-te essas mal traçadas linhas, meu amor, porque veio a saudade visitar meu coração. No outro dia, a carta realmente seria entregue. Em algumas horas, mais precisamente, pois já era alta madrugada, talvez tarde demais. Talvez tu não a leias, mas não importava, porque aquela era a última chance. A despedida derradeira. Ao me apaixonar por ti, não reparei que tu tivestes só entusiasmo.
Aquela noite estava tão fria quanto a manhã em que acordei hoje. Voltei à Assis Brasil, onde havia me perdido no passado. Começo a achar que o frio ardente é alucinógeno...
E para terminar, amor, assinarei:
             Do sempre, sempre, teu

Thiago M. Lacerda


Os trechos em itálico foram retirados da música A carta, de Erasmo Carlos e Renato Russo

Enforca-me

Minha liberdade já ficou pra trás
Não adianta fingir
Ninguém mais é capaz
De mudar ou mentir
Pois já sei que tudo que fiz
Eu faria outra vez igual

Dê-me mais corda
Continue, é disso que eu preciso
Motivos
Somente motivos

Dê-me mais corda
É nela que poderei me segurar
Antes de cair
Antes de partir

Isso, isso, dê-me mais corda
E se quiser espere
Pois cedo ou tarde
Eu mesmo farei...

Thiago M. Lacerda

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Ela foi embora

Lembro-me como se fosse hoje
Sob o céu estrelado
A lua como testemunha
E só tu ao meu lado

Prometeu-me amor eterno
Amor sincero
Imensa divida
Que até hoje eu espero

Selada com um beijo
Aquela promessa
De nada valeu
Foi tão falsa quanto o beijo que me deu

Disse-me: Não vou te deixar
Vou te amar
Estarei sempre contigo

E agora
Onde estás?

Thiago M. Lacerda

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Os planos daquele assalto

Nunca imaginei estar aqui hoje, nesse fim de tarde rosado de uma quarta-feira tediosa, sentado na varanda, esperando o tempo passar. Velho e acabado. Os anos foram cruéis. Vejo o sol nascendo e se pondo, sem nunca envelhecer. Quantos anos tens, sol? Bilhões, talvez... E ainda assim permanece sempre com esse explendor. Eu é que me deixei vencer pelo tempo. Deixei que as dificuldades me afogassem nesse mar de tristezas que é a vida. Não tive força suficiente pra conduzir meu barco.
Rugas e cabelos brancos. Olhos fundos. Minha idade eu nem lembro mais. Da minha vida eu pouco sei. Lembro-me dos meus planos. Dos planos daquele assalto. Quantas noites planejando em vão. Houveram dias em que esse objetivo não saia da minha mente. Meus olhos viam o alvo daquele furto. Meus dedos se mexiam frenéticamente pensando no toque suave. Sim, eram excelentes planos. Estava tudo pronto. Perfeito. O crime perfeito! Ou melhor, nem tão perfeito... Porque falhou... Não consigo acreditar. O plano daquele assalto... Sim, eu seria um ladrão, mas um ladrão feliz! Sabe o que eu pretendia roubar? Exatamente, eu roubaria teu coração! Esse era o plano! Planejei roubar teu coração, e quando me dei por conta, o meu ja havia sido roubado... Perdí meu coração... Os planos não deram certo, e fiquei vazio. Caminhando pela rua encontrei um pedra do tamanho da minha mão. Achei-a bonitinha, ajeitada. Coloquei-a no peito e saí por aí.
Hoje, cá estou. Com um coração de pedra, um coração perdido, um plano falho e um amor que nunca veio... Ai, ai, como consegui chegar até aqui?

Thiago M. Lacerda