quarta-feira, 30 de março de 2011

Bauman

O relógio no canto da tela marca três horas. Há cinco estou mirando a tela sem absolutamente nada a escrever. Cinco horas e nem uma palavra. Na verdade foram várias palavras, mas nada que pudesse ser considerado um pontapé inicial. O tempo aumenta a pressão. É, acho que deveria ter comprado aquela máquina de escrever. Pelo menos não estaria há cinco horas olhando para um caixa que emite luz. Meus olhos agradeceriam. Mas cá estou, sem máquina de escrever, sem frio, sem uivo do vento. Só uma noite clara e abafada, exatamente como as noites típicas de verão.
Preciso escrever um conto. Apenas um. Lembrei-me de Bauman. O conto é liquido, se adapta a qualquer recipiente. De tão liquido me escorre pelos dedos e derrama-se noite a fora. Meu conto deve estar por ai, em uma poça qualquer, prestes a evaporar aos primeiros raios de sol. É, acho que hoje não é a minha noite. Talvez o céu desabe meu conto novamente. Sonhos. Um conto não cai assim do céu. Mas, como água pode simplesmente chover sobre mim? Quem dera o conto fosse liquido. Zygmund Bauman estava errado. Se bem que, se não fosse liquido, como eu o perderia tão facilmente?
Deu! Chega! Nada de computador. Nada de máquina de escrever. Eu vou é pegar papel e caneta e escrever na banheira.

Thiago M. Lacerda

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