sexta-feira, 4 de março de 2011

Não aprendí a amar

Certa feita, estava eu em uma cidadezinha do interior. O inverno estava sendo rigoroso, e ao longe vi um belo casal caminhando na praça do chafariz. Conversavam serenamente. Na calçada, a capa do violão aberta, eu tocava sem me importar muito com o mundo. Mas confesso que aquele casal me chamou atenção. A canção entrou no piloto automático e, não sei se pela beleza de ambos ou pela briga que começara sem aviso, eu só prestava atenção nos dois.
O frio tornava aquele lugar quase mágico. O chafariz, as luzes, os banco, as árvores. A igreja ao fundo. Deus via tudo. Aquela briga não combinava em nada com o lugar. O casal que minutos atrás parecia feito para aquela imagem agora se destacava em meio à calmaria.
Mas diz porque tu vais embora. Mas diz porque tens tanto medo. De repente voltei à minha música. Enquanto dedilhava o violão, voltei ao dia em que partí. Porque fui embora? Tive medo? Depois de muito pensar, cheguei a conclusão de que eu não nasci para conviver com os outros. Tenho medo de longos relacionamentos. Não entendo como duas pessoas podem ser melhores amigos. Não acredito nesse tipo de amizade. Enquanto morei com meus pais, tive muitos amigos, mas nenhum igual aos amigos que conquistei na estrada. Talvez a maioria nunca mais me veja. Assim como não carrego saudades, creio que eu não seja uma figura sempre lembrada por todos, mas o que ficaram para as minhas histórias com certeza foram importantes, pois me ensinaram algo. Assim como esse casal, que me fez relembrar um dos motivos de ter partido. Nunca soube seus nomes, mas sei que observando-os sentí medo. Medo de relações longas, de muita aproximação. Intimidade demais é prejudicial à saude. Dezessete anos me fizeram compreender que o ser humano é livre, e que as pessoas tendem a prender-se umas às outras. Nunca me acostumei a esse tipo de relação. E assim descobri porque levo essa vida errante.
Depois de um longo beijo, os dois pararam de brigar. Admiraram um pouco o chafariz, deram-me algumas moedas e se foram. Levante-me e comprei um café.

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