quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Nem mais conhecido

Se tivesse nascido em berço de ouro, talvez essa atitude fosse justificada. Mas nascerana favela, onde cresceu no meio de muitos como ele, pobres. Realmente, sua infância fora pobre, mas feliz dentro do possível. Aquilo não parecia do seu feitío. Ou pelo menos não como eu o conhecera.
Dias atrás, caminhava em uma rua movimentada quando encontrei esse velho amigo. Há tempos não o via. Soube que ganhara enorme fortuna como herança. Alguém como essas tias bilionárias que não conhecemos e parecem existir só nos filmes morreu, deixando para o rapaz uma quantia inimaginavel.
Mas lá estava ele, saindo de um polido carro preto, e vestindo, impecável, um terno da mesma cor do automóvel que o levara até ali. Parecia despreocupado. Parou em frente a um fino restaurante, junto de um grupo que o esperava.
Apressei o passo para encontrá-lo. Queria perguntar-lhe da vida, matar a saudade, marcar algo como nos velhos tempos. A principio me olhou receptivo. Dirigiu o olhar aos amigos que o cercavam, e novamente a mim, agora mais preocupado. A pele parda tornava-se cada vez mais pálida. O cabelo raspado que levava desde a infância parecia esquentar-lhe a cabeça, pois no rosto já lhe escorriam algumas gotas de suor. Os ombros, sempre arqueados, alinharam-se bruscamente.
Passei ao seu lado sem apresentar a mínima intimidade, mesmo porque, já me virava o rosto. Escutei um suspiro aliviado ao passar e, triste, concluí que não mais ou conhecía. Só passei reto pois um dia fora o meu amigo.

Thiago M. Lacerda

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