Sozinho em casa. Sem aula. Sem movimentação. Em plena quarta-feira. Decidí tomar uma caneca de café com leite, e liguei a TV para assistir qualquer coisa enquanto preparava a bebida. Sintonizei em um canal da TV paga que há muito não via. Passava Pokémon. Aquilo me trouxe inumeras lembranças e sensações. Extasiado, sentei-me, bebendo meu café quente e pardo, e prendí-me aquele aparelho como há muito não fazia. Vozes conhecidas gritavam dentro de uma caixa grande com uma tela. Olhando por esse ponto, uma situação completamente insana. Mas, a magia do desenho animado me envolvia de tal maneira que deixei o msn e o violão no quarto para assistir aquilo.
Ví o filme todo, envolvido no frio ainda mais mágico que cruzava Porto Alegre naquela noite, bebendo um fumacento café com leite. Me sentí criança de novo. Lembrei-me das madrugadas vendo Dragon Ball e Samurai X. Das tardes brincando de Digimon e Shurato. Das horas e horas desenhando os personagens que me encantavam dentro daquela caixa louca. No colégio, era só esse o assunto. O pátio e as salas do Anne Frank, se tivessem ouvidos, estariam cansados de ouvir-nos falar sobre o último episódio de Inu Yasha ou sobre o mito do Dragon Ball AF.
Pensei em como era boa aquela vida, apressando o Tio André da van escolar pra chegar a tempo de assistir Dragon Ball Z. Essas eram as maiores preocupações: Não perder os desenhos e andar de bicicleta com os amigos. Mas um dia a gente cresce, mesmo que isso demore, e surgem os amores, as provas, as festas e os empregos, e toda aquela pureza da infancia se vai, porque a vida, que se torna cada vez mais dificil, vai calejando as pessoas, tornando-as insensiveis. Felizes são aqueles que ainda conseguem manter, mesmo que seja la no fundo, um pouco da criança que um dia foi.
Pelo menos um dia, é bom ser criança, cair, chegar em casa com as pernas roxas, com vontade de ver desenho, correr na praça e receber um xingão da mãe porque sujou toda a camiseta branca. Quem é criança sabe viver melhor, pois a inocencia e a sinceridade da infância podem solucionar todos os problemas.
Thiago M. Lacerda